quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Não é em Alhos Vedros, mas é bem perto. De resto, Alhos Vedros está cheia de estórias que vieram de lá e que foram para lá. Não se tratasse de uma fábrica que ajudou a fazer uma região e as pessoas com elas. Como se pode ver também fuma. Decerto, que de vez em quando se constipa, e espirra, e mija amarelo para o rio. Nós comemos peixes do rio. Faz muitos anos.

Ainda me lembro dos meus treze anos. 1973. O liceu era justamente no Bairro da CUF, paredes meias com o cinema que já foi. Tantas estórias. Não havia liceu mais perto. As aulas de Ginástica eram feitas no Campo de Santa Bárbara, onde velhas glórias do desporto fizeram fulgor. Então, já desactivado. Tinha dias que a fumarada era tanta, de difícil inspiração, com um desagradável ardor na garganta, amargo, obrigando a fazer os exercícios físicos de lenço na boca. Tipo os cowboys do Far West incógnitos, naquela altura também muito em voga.

O fumo ainda anda por cá. Nos pulmões. É preciso um sistema imunitário de "peitos de aço". E mesmo assim não chega. Até por isso, não posso estar mais de acordo com a proibiçao do fumo (do tabaco) nos espaços públicos como fizeram hoje em França, depois da Irlanda, da Itália, da Espanha, mais dois ou três países nórdicos. Todos seguindo uma directiva europeia. Penso que é um bom sinal civilizacional e só não percebo porque demoramos tanto tempo a seguir o exemplo. Parece que para nós só a concorrência e a competitividade económica são expressões de contágio imediato nas relações com os nossos parceiros. Mas não é para todos.

Lá me constipei outra vez. Desta vez é que é, Vou Deixar de Fumar. É que eu sou tal e qual a Quimigal: deito fumo pela boca, espirro e mijo amarelo para o rio.

Luis Santos

4 comentários:

ESTÓRIAS DE ALHOS VEDROS disse...
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ESTÓRIAS DE ALHOS VEDROS disse...

A CUF não fica(va) em Alhos Vedros, mas "engolia" muita gente de Alhos Vedros. Nesse sentido, é uma parte significativa da nossa identidade, porque muitas pessoas gastaram a sua vida naquelas fábricas. Embora o emprego fosse bom (com ordenados acima da média), os homens e mulheres dos anos 60 e 70 respiravam aqueles ares cheirosos e queimaram as forças em trabalhos difíceis.

Luís Mourinha

Estudo Geral disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ESTÓRIAS DE ALHOS VEDROS disse...

Trabalhos difíceis, vidas difíceis... e como é difícil dar-lhe a volta. Agora, quando tudo fazia crer que iríamos trabalhar menos horas por semana, preservar as regalis sociais conquistadas, a necessidade de concorrer e de competir fez-nos dar dois passos para trás. É a economia, dizem. Está muito difícil conciliar felicidade com economia, não é verdade?

Luis Carlos