sábado, 27 de janeiro de 2007

DO FUTEBOL À REALIDADE: UM PERCURSO COMUM NO LARGO DA LARGADA

A propósito do Artigo/ Post do Alvalade do Sado, "Águias Futebol Clube", lembrei-me de experiências vividas nesse espaço de Festa e de aficionados taurinos, "aberto" de semana e todos os dias à brincadeiras (às vezes muito sérias dos jovens de Alhos Vedros). Note-se, jovens masculinos; as raparigas estavam excluidas destas fainas mais adequadas aos machos da terra:

"Quantos de nós frequentámos o Largo da Largada, em casuais jogos de Futebol e em sonhos concretizados de Clubes de Futebol. Sonhos de gente grande que, nós catraios, pequenos de tamanho mas enormes de sonhos, visitávamos e dávamos vida a esse espaço de diversão e de associativismo.Penso que esse espaço, se não é mítico, é pelo transversal a uma série de gerações de nativos de Alhos Vedros. Claro que eu sou bem mais novo que os Luís Carlos e que o Luís Gomes (lol), mas também lá fui em muitas tardes de tempo livre. É claro que naquele tempo havia muita gente do Benfica, adeptos das Águias (o que já não é muito frequente hoje em dia), mas valia pelas experiências conjuntas vividas intensamente.
Era o Lídio, o Mané, o Catarino e muitos outros, todos diferentes, mas todos iguais em sonhos de fama e de realização pessoal. É claro que um era o dono da bola (tal como nos tempos de hoje e que se pode extrapolar para o Futebol profissional)...mas, independentemente disso, valia pelo convivio e pela semente de associação entre pessoas e uma certa noção de associativismo. É claro que nem tudo corria bem, pois se o jogo estivesse de má feição para o dono da bola, o jogo acabava de imediato ou se alteravam as regras, segundo prescrições do proprietário. Também, muitas vezes (nem sempre!), nas partidas contra o pessoal do Xangai (Baixa da Banheira), os jogos eram substiutidos por modalidades informais de afirmação guerreira, dominadas por arremesso de material pesado. Lembro-me de um jogo, que deveria ser decidido a penalties, mas que terminou inconclusivo, através de uma modalidade muito popular na altura - a "pedrada". De uma lado e do outro esgrimiam-se argumentos de arremesso e o veredito era ditado pelo número de cabeças partidas. Quanto ao jogo propriamente dito e à decisão nada se obtinha de concreto, mas, pelo menos, valia o "convívio", que se media pelo sangue das cabeças e pela veia guerreira de cada um. Lembro-me que o Lídio era um excelente Guarda-Redes, que impunha respeito aos avançados e que o Mané se impunha pela técnica. O Calado, colega irreverente da escola primária, era o "homem sem medos" que tudo arriscava no relvado imaginário. Depois na parte do prolongamento, decisão pela lógica do arremesso, ele era um parceiro detemido e de grande valor. O Toi (Nogueira) aparecia às vezes quando não tinha que ir dar banho ao cão: o pai dava-lhe tarefas de grande responsabilidade e nós já adivinhávamos as suas palavras: "não posso jogar, tenho que ir dar banho ao cão", quando na verdade (pelo que consta, passava grande parte do tempo a ouvir New Wave e o último disco do Frank Zappa). O Luís Paulo (Plácido) já se ocupava com iniciativas de gente maior, com a caixa de madeira que seria mais tarde o retransmissor da Rádio "Estúdio 57", a fazer inveja a qualquer engeneiro electrónico. O Fausto aparecia às vezes mas nuca gostou muito de futebol, nem consta que tenha partido alguma cabeça. Os outros e muitos outros não eram craques (de certeza absoluta!), senão ia-me lembrar deles (lol). Eu, ainda me lembro-me de mim, desajeitado e porque não era o dono da Bola nem tinha grandes dotes de jogador, ia contemporanizando os meus colegas, tentando não destoar.
Que memórias fantásticas, transversais, vividas e nossas (de todos), que em putos viviamos como gente grande. Como seriamos hoje (no Século XXI), jovens sonhadores, com todas estas novas possibilidades tecnológicas e de comunicação e de interacção? Provavelmente seriamos piores no futebol, péssimos nas pedras, mas melhores em conhecimentos do mundo global???"
Luís Mourinha

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