FAZER UM JARDIM EM ALHOS VEDROS
(OU FAZER DE ALHOS VEDROS UM JARDIM)?
Tenho um amigo que adora animais. Cavalos, cães, grandes e pequenos, gatos, aves de vários portes, e por aí fora. Um dia apanhou um pássaro do rio ferido. Um desses pássaros que passam connosco parte do ano, em viagens eternas de vai-vem, e que, com certeza, foi apanhada por uma chumbada de caçador.
Era uma gaivina: a parte superior das asas preta, todo o dorso branco, pernilonga e de bico estreito e comprido para melhor pescar na lama.
O meu amigo levou-a para casa, tratou-a, deu-lhe de comer, e quando viu que ela estava completamente restabelecida, achou que era chegada a hora de a devolver ao seu habitat natural. E convidou-me para tal empresa.
Foi um grande dia esse, o da libertação da gaivina. Tudo se passou nas marinhas defronte do Cais de Desmantelamento dos Barcos, em Alhos Vedros. Como eu trago bem gravado, desde então, o ar de agradecimento que a gaitinha nos enviou, antes de virar numa esquina de salgadeira e voar para iniciar um renovado ciclo de vida.
Quanto ao “Cais Novo”, o cemitério dos barcos que temos em Alhos Vedros, assinala uma forte presença, ali mesmo junto ao rio, destoando de toda a área natural, ribeirinha, que o cerca. Uma zona de grande beleza natural e de lazer para todos nós que outrora ali íamos passear, pescar, tomar banho, ver os flamingos, as gaitinhas, enfim, aproveitar algumas das boas oportunidades que a natureza nos proporciona. Disse bem, outrora...
Ainda tem o nosso Concelho, refira-se em bom tom, aqui mesmo em frente a Lisboa, um daqueles lugares naturais que constituem um bem escasso cada vez mais raros nos tempos que correm. Portanto, o mais óbvio, será irmos pensando, e depressa, na melhor maneira de proteger toda esta zona ribeirinha, devolvendo-a inteiramente ás populações, evitando a tempo alguns oportunismos menos convenientes que não destruam a beira rio, tantos são os maus exemplos que conhecemos.
Para mim a solução ideal para todo este lugar é simples: limpar, conservar e deixar estar. Quero dizer, prefiro que se deixe tudo o mais natural possível, embora criando algumas condições para uso das pessoas (como circuitos pedestres e de manutenção, praias fluviais, pesca e visitas de estudo ás gaitinhas, entre outras) em substituição de algumas marinhas e viveiros de peixe, já completamente desactivados. Penso que seria melhor solução do que fazer um jardim e semear o resto com prédios como é tão de moda fazer-se. E é sabido que eu gosto muito de jardins, mas deixemo-los para lugares mais apropriados.
Mas se em Alhos Vedros a relação entre gentes e rio estava a ficar complicada, agora, meus amigos, acabaram de chegar os Melos. E num projecto urbanístico rodeado de muitos cuidados e algum mistério, falava o jornal “Público em mais 11.000 habitantes para Alhos Vedros, ali mesmo ao pé do rio. Já pode visitar o andar modelo.
Será que vão haver gaivins que resistam?
SANTOS, Luis - Nós e o Rio. Alhos Vedros: Ed. CEAV, 2006.
Era uma gaivina: a parte superior das asas preta, todo o dorso branco, pernilonga e de bico estreito e comprido para melhor pescar na lama.
O meu amigo levou-a para casa, tratou-a, deu-lhe de comer, e quando viu que ela estava completamente restabelecida, achou que era chegada a hora de a devolver ao seu habitat natural. E convidou-me para tal empresa.
Foi um grande dia esse, o da libertação da gaivina. Tudo se passou nas marinhas defronte do Cais de Desmantelamento dos Barcos, em Alhos Vedros. Como eu trago bem gravado, desde então, o ar de agradecimento que a gaitinha nos enviou, antes de virar numa esquina de salgadeira e voar para iniciar um renovado ciclo de vida.
Quanto ao “Cais Novo”, o cemitério dos barcos que temos em Alhos Vedros, assinala uma forte presença, ali mesmo junto ao rio, destoando de toda a área natural, ribeirinha, que o cerca. Uma zona de grande beleza natural e de lazer para todos nós que outrora ali íamos passear, pescar, tomar banho, ver os flamingos, as gaitinhas, enfim, aproveitar algumas das boas oportunidades que a natureza nos proporciona. Disse bem, outrora...
Ainda tem o nosso Concelho, refira-se em bom tom, aqui mesmo em frente a Lisboa, um daqueles lugares naturais que constituem um bem escasso cada vez mais raros nos tempos que correm. Portanto, o mais óbvio, será irmos pensando, e depressa, na melhor maneira de proteger toda esta zona ribeirinha, devolvendo-a inteiramente ás populações, evitando a tempo alguns oportunismos menos convenientes que não destruam a beira rio, tantos são os maus exemplos que conhecemos.
Para mim a solução ideal para todo este lugar é simples: limpar, conservar e deixar estar. Quero dizer, prefiro que se deixe tudo o mais natural possível, embora criando algumas condições para uso das pessoas (como circuitos pedestres e de manutenção, praias fluviais, pesca e visitas de estudo ás gaitinhas, entre outras) em substituição de algumas marinhas e viveiros de peixe, já completamente desactivados. Penso que seria melhor solução do que fazer um jardim e semear o resto com prédios como é tão de moda fazer-se. E é sabido que eu gosto muito de jardins, mas deixemo-los para lugares mais apropriados.
Mas se em Alhos Vedros a relação entre gentes e rio estava a ficar complicada, agora, meus amigos, acabaram de chegar os Melos. E num projecto urbanístico rodeado de muitos cuidados e algum mistério, falava o jornal “Público em mais 11.000 habitantes para Alhos Vedros, ali mesmo ao pé do rio. Já pode visitar o andar modelo.
Será que vão haver gaivins que resistam?
SANTOS, Luis - Nós e o Rio. Alhos Vedros: Ed. CEAV, 2006.
2 comentários:
Boa questão.
Quanto tempo nos falta para aprender que o progresso, supostamente progresso, não pode colidir com o ambiente.
Que, pelo contrário, as agressões ao ambiente, significam o contrário de progresso.
Que em última análise, se pensarmos bem, "super- povoar" pode ser um acto agressivo contra-natura, que pode significar "regresso" em vez de progresso.
Veja-se o que se fez no Algarve, no que diz respeito à construção descontrolada. Pensem no que se está a fazer na pacata (outrora pacata)Vila de Alcochete.Pensem em cidades monstruosas, onde já é difícil sobreviver por falata de espaços e de recursos, tais com Cidade do México, S. Paulo, entre outras.
Uma vez numa entrevista a Jaques Cousteau(que ficou famosa)perguntaram ao Mestre qual é o maior problema de ambiente nos tempos actuais. Toda a gente adivinhava o discurso repetido da camada de ozono, das poluições das fábricas, dos automóveis, etc etc. A resposta foi esta: é o grande desiquilibrio entre ricos e pobres (especilamente entre África e Europa) e o facto das populações estarem concentradas em determinadas zonas do planeta (onde já faltam recursos), abandonando outras, que ficam desertas, sem pessoas e sem actividade humana.
Ass: Luís Mourinha
Talvez aqui dê para complementar o comentário com o texto...
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