(…)Deixados, porém, os inumeráveis milagres e benefícios particulares que a Senhora dos Anjos tem obrado aos seus fiéis devotos, vamos ao principal, público e notório que fez em dia de Ramos, tão celebrado na História a tradição por ser prodígio de eterna memória em um tiunfo contra os mouros no ano de 1148, pela Vitória, que os moradores desta Vila alcançaram contra os ditos infiéis; por cuja causa ainda hoje se celebra e celebrará no dito dia festas de acção de graças à Senhora dos Anjos com Missa cantada (…).
Vem a ser o caso em que tendo já conquistado Lisboa o nosso primeiro Monarca D. Afonso Henriques no ano de 1147, ficaram respirando na sua liberdade os católicos nestes distritos, que com grande prazer cumpriam com os preceitos e ofícios Divinos, ocupando ainda os Mouros as Vilas de Palmela e Sesimbra. Sucedeu logo no ano seguinte de 1148 que os ditos Mouros de Palmela e seus distritos, quiseram vir com um grande exército a vingar-se dos Cristãos para os cativar, saquear e roubar, para o que não podiam fazer melhor emprego, do que nesta Vila onde estavam muitos e lhes custar pouco a empresa por ser a terra aberta, sem muros, nem fortalezas; e não era vão o seu pensamento, senão fora a Torre fortíssima de Maria Santíssima que tinham os cristãos nesta Vila(…).
Com efeito em Dia de Ramos, do dito ano, pela manhã, vieram os Mouros à dita empresa, a tempo em que se achavam os cristãos na Igreja Matriz, nos ofícios Divinos, tendo-se já celebrado o triunfo de Cristo com os ramos e palmas bentas mas ainda com a procissão do dito triunfo, e tendo notícia deste rebate e invasão sairam logo os cavaleiros e pessoas distintas que podiam tomar armas, e o povo só armado com os ramos e palmas para seguirem a fortuna que Deus lhes quisesse dar, acompanhando os valorosos e invocando sempre por Maria Santíssima, Rainha dos Anjos, ficando a mais gente feminina e pueril na dita Igreja e adro com lágrimas e súplicas recorrendo a Maria santíssima. Eis que logo que sairam, avistaram aquela multidão de bárbaros e fazendo-lhes frente, principiando a pelejar com grande desbarato neles, reconheceram logo ou lhes pareceu que os cristãos tinham maiores forças ou estavam aparelhados com grande poder para este conflito, e com estes os rompessem, foi tal o horror e confusão que entrou nos mouros por verem a sua mortandade e maior poder dos cristãos, que cheios de pavor foram dando as costas para salvarem as vidas. Com toda a pressa fugiram para as fortalezas donde vieram.”
“Ó Divina que neste conflito bem mostrastes o Vosso poder e a Vossa fortaleza, com a qual os vossos filhos se defenderam e por Vossa conta tomastes o desempenho fazendo com que os moradores de Alhos Vedros, conseguissem esta vitória, tendo por bom anúncio quando sairam ao campo levarem consigo as palmas, sendo Vós a Fortaleza e dando-lhes o socorro; cada Ramo foi um triunfo, cada Palma uma Vitória.”
ALVES, Carlos F. Póvoa - Subsídios para a História de Alhos Vedros. Edição do autor, 1992.
domingo, 6 de maio de 2007
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