Quartel do Paço do Lumiar – Força Aérea
Esta foi uma das muitas aventuras, que vivi na tropa, com os meus companheiros d’armas. Na altura em que cumpri o serviço militar, vivia no Barreiro. A função que desempenhei foi a de enfermeiro. Eu e o “Rato” costumávamos ligar a sirene, a sinalizar urgência, para chegarmos mais rápido à Costa da Caparica e podermos tomar uns refrescantes banhos, enquanto “galávamos” as miúdas e tentávamos meter conversa com elas.
Nesta noite fomos fazer um serviço diferente, do que era habitual. Fomos buscar à sua residência, o Sargento-ajudante, para o levar a tratamento. No caminho, o “Rato”, um verdadeiro amigo dos copos, resolveu dar boleia a duas raparigas, que se encontravam no final da Av. Da Liberdade, conhecida na época, pela tipologia da clientela nocturna.
Eu fartei-me de o avisar, sobre o risco de as transportar, para a unidade militar, face ao castigo em que podíamos incorrer. Mas ele era teimoso e ainda nos chateámos por causa disso. Eu bem o avisei que elas eram esquisitas, mas O “Rato” não quis saber. Só me perguntava onde era o meu contentor do lixo.
Perante a insistência, lá concordei que as podíamos levar lá atrás, cobertas com um lençol, em cima da maca, simulando um doente em estado grave. Entretanto, naturalmente, tivemos a anuência do Sargento-ajudante Abrantes.
Chegados ao quartel o Rato desapareceu com as mulheres, para a casa dos motoristas, onde dormia. Mas antes de desaparecer ainda me pediu para informar um colega, que havia um petisco único, à sua espera, na casa do motorista. Eu “dei de frosques”, para o bar, pois não queria arranjar problemas para o meu lado.
No percurso até ao bar encontrei o jovem “Langão” (nome de guerra, do homem mais rápido do quartel), excelente pintor e um mestre nas artes da sesta. Este era residente em Alhos Vedros e natural da Baixa da Banheira. Transmiti-lhe o convite do “Rato” e fui até ao bar beber uns copos e jogar à sueca.
Quando lá cheguei, estava lá o Cruz, benfiquista do Teixoso, que falava assobiando. Bebemos uns copos, jogamos uma sueca, mas eu nunca lhe fiz referência ao assunto das miúdas, quanto menos companheiros soubessem melhor.
Cerca de uma hora depois, subitamente surge à porta do bar, o “Langão” aos gritos. Vinha a correr todo esbaforido, descomposto, a camisa cheia de marcas de batom, completamente em pânico e a gritar:
- É pá, acudam. Não vão acreditar.
- Então, “Langão”? O que é que se passa? O que é que te aconteceu? Parece que vistes alguma coisa do outro mundo!
E escusado será dizer que fazia um grande esforço, para não me desmanchar a rir, devido ao seu aspecto.
- Não vais acreditar! As tipas têm três pernas, pá. O “Rato” não sabe o que fazer, vai para lá uma gritaria! Venham cá acudir.
Morto de rir, mas já preocupado, fui ver o que se passava com o “Rato” e as mulheres. Dei com ele meio embriagado, deitado no chão e nada de mulheres, homens, ou sei lá o que era, ali pelas imediações.
Demos umas lambadas ao “Rato”, na tentativa de o despertar e perguntámos, o que lhe tinha acontecido e onde é que elas estavam. Mas ele só dizia:
- Elas tinham um “chicote” escondido…
Corri as guaritas todas, com a cabeça às voltas, pois se estes/as fossem encontrados/as, era o bom e o bonito, íamos ver o sol aos quadradinhos, na certa.
Corri o quartel todo de ponta a ponta e nada. Então lembrei-me de espreitar por cima do muro. A última imagem que retenho desta atribulada aventura, é a das pseudo mulheres a tirar as meias de ligas, cheias de picos e cardos, pois tinham saltado das torres de vigia, para o meio do mato. Não paravam de se coçar, desesperadas, pelo corpo todo e a atirarem os sapatos de salto alto vermelhos, de mulheres super sensuais.
Moral da estória: peça sempre identificação àqueles a quem der boleia!
Teresa.
sábado, 6 de outubro de 2007
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8 comentários:
Só uma dúvida: na tropa, era enfermeiro ou enfermeira?
Quanto ao resto é uma estória bem típica dos tempos de tropa. Gostei particularmente do título(!...), o que não significa que não tenha gostado do resto.
Se tivesse cumprido serviço militar era decerto enfermeira, pois não tenho físico para tropas especiais, por exemplo.
Uma interrogação: porquê o título?
Uma história da vida enquadrada numa idade de riscos e paixões.
Talvez a assimilação consciente de outros ambientes e agentes que pululam a nossa existência, ou a (de)formação do mundo.
Tudo se torna permitido, tudo se quer transformar...
Algumas notas: parece-me masculino, apesar do comentário feminino. Mas que seria aliciante sentir por perto o carisma e doçura dos uniformes branquinhos (no feminino)......era privilégio !
Algumas questões: em que datas, e que pendor ficcional/real dos personagens que parecem representar este nosso cantinho à beira-Tejo ?
Cmps
Flávio Meireles
Quando oiço falar em Avenidas da Liberdade fico assim...
Flávio:
Está "mortinho" para saber quem é o "Langão", não está? Não lhe posso dizer, juro. Era um bocado chato, acredite. Mas, a história é verídica, isso lhe garanto, todinha!
Teresa.
Meu Deus, passou-se!
Teresa,
mesmo que seja alguém conhecido e/ou residente neste cantinho, não vejo mal em poder identificar-se....Provavelmente foi o seu momento de (in)glória !
Quanto à Av. da Liberdade....falemos de diversidade, para ninguém ficar "assim" !
Flávio Meireles
Lamento não puder satisfazer a curiosidade sobre esta estória verídica. Este é o meu último contributo para este espaço. Fiquem todos bem.
Teresa.
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