sábado, 27 de outubro de 2007

Terra Velha

Fazes? Sim?
Faz um jardim p’ra mim.

Não me deixes assim crescer
em cimentos aos molhos, descorados
entre as águas dos meus olhos, magoados
Não me sentes entristecer?
Faz-me, sim?
Faz um jardim p’ra mim,

ao pé do rio,
e deixa-me sentar no jardim
com tempo para sonhar,
para brincar ao pião.
Pode ser assim um jardim
do rio até à serra
e desenha-me com caminhos de terra,
que em cimento não,
Faz-me, sim?
Faz um jardim por mim.

E molhada pelo rio que vou sendo
até ao vulto da serra que vou vendo,
há-de vir ainda um dia,
que não só na poesia,
Farei, eu mesma, um jardim de mim.
E tu ajudas-me, sim?...

Luis Santos

9 comentários:

A.Tapadinhas disse...

Os teus poemas conseguem transmitir uma juventude que eu admiro e invejo! O teu elixir é retirado dum beija-flor azul? Ser poeta é ter um jardim encerrado no peito...
Abraço forte!
A.T.

Estudo Geral disse...

Querido amigo, quem me dera encerrar dentro do peito toda a delicadeza que te envolve, mais a amizade que me dedicas.

Infelizmente, as palavras bonitas que me saem são de um outro alguém que me sopra aos ouvidos. Delas nada me pertence. As outras sim, são todas minhas.

Forte Abraço,
Luis Carlos

philos disse...

Linnnndo!!!

Flávio M. disse...

Abençoado o oráculo que inspira tão lindos fonemas. O elixir é etéreo, e o pássaro azul será sempre a alquimia das flores onde soubermos colher o pólen !
Lindo é o voo da verdade que respeitando o mundo chegou ao porto da paz !

Flávio M.

CIDE disse...

Quem escreve assim não é gago. Mesmo que fosse, a poesia não padece de enfermidades; ou seja, a poesia canta a melodia da nossa alma (digo, a boa poesia); e por isso até pode gaguejar, desde que fale a linguagem da alma.
Esta fala directamente com ela: a alma.
Por isso, valeu a pena!
Vale a pena, sempre que a poesia não é pequena!

Luís Mourinha

MJC disse...

Não posso (nem quero !) deixar de me associar à plateia que, em êxtase, se rende à beleza do poema. De tudo o que já escreveste - considerando o que me foi dado conhecer - esta é seguramente uma das coisas mais belas.
Um abraço do Croca

Estudo Geral disse...

Não deixem de ver a continuação deste Jardim nas edições ceav em "As Árveres"...

Estudo Geral disse...

Bem-vindo Manuel João (tinha-me esquecido).

philos disse...

Estive aqui de novo para reler, pois tinha saudades deste poema.