Num dia de insolvência insolente, dissoluta e solvente em planos de ânimos saturados de cargas semânticas falsas, incolores, híbridas.
Como tu.
Cheio de abstractas linhas geométricas e belas curvas de ângulos rectos, no meu triângulo de quatro faces falta uma face. A face que me ofereces, triste e opulenta de sombras que iluminam o teu olhar e mortificam o meu sorriso. Só as lágrimas consegues gerar nos outros, não são lágrimas salgadas das águas profundas da alma insípida e superficial, nem o sangue quente de uma juventude perdida no frio árctico de um Agosto próximo num Alentejo distante.
Quem sofre mais? O enamorado não correspondido, ou o não enamorado que não pode aceitar uma paixão que não lhe pertence, e por isso mesmo sofre, enquanto a indesejada paixão o sufoca? Paixão extrapolada em lágrimas, eximias mestras da esgrima do pensamento e sentimento… reencontro atrasado de um passado não vivido e de um presente já passado…
Lágrimas, apenas lágrimas, e nada mais que isso.
Lágrimas ocas contra um interior tão rico como o teu. Tu és o humano mais humano que conheço, e no entanto tentas esconder a tua humanidade por debaixo de uma máscara gélida… imponente distância inútil, ingénua… gostavas de ser ignorado, mas isso é impossível, ignorar o impossível e dissolver-se no possível seria o maior crime desta impensável humanidade. A fusão com o possível, é a morte da essência, a eloquência de uns na má vivência de outros…
Vazio, frio… Distante e gritante na troça estreante da bondosa maldade inocente…
Tu que tens a beleza da sabedoria e o dom da sensibilidade, não te afastes de nós, nem negues quem és. Desprezar é mentir, aceitar é curvar, sentir é viver!
E se eu dedicar este texto à minha amada, será que ela vai sentir o mesmo que eu escrevi, ou vai sentir o mesmo que eu desejei?
João P. Pereira
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007
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4 comentários:
João, Isto é lindo, gostaria de ter escrito uma coisa assim tão bonita. É das mais belas passagens que já li no domínio do tratamento do amor, até me arrepia de ler.
Continua João, há aqui dedo de escritor e, pelo encanto das palavras e arte revelada de as juntar, só poderá viira a ser dos bons, dos muito bons.
Força companheiro, a vida é a arte do encontro, como dizia o Poeta, pois faça por encontrar esse engenho na sua vida que está ao alcance da sua mão e estou certo que a Humanidade agradecerá.
Um abraço
Luís F. de A. Gomes
Um texto fascinante!!!
Pode alguém ser quem não é ?
Muito bem escrito!
Luís Mourinha
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