domingo, 25 de fevereiro de 2007

COOPERATIVA DE ANIMAÇÃO CULTURAL DE ALHOS VEDROS

Uma tarde, algures em 1986, no Café dos Valérios bebeu-se o Moscatel da "iniciação". Teria nascido a CACAV, hoje reconhecida por todos como um espaço (na latura, sem espaço definido), onde fervilhavam ideias e promessas de intervenção cultural. Não eram muitos a erguer o copo de Moscatel. Nem me lembro com exactidão quantos eramos naquela "reunião" promissora, que trazia esperanças e renovadas motivações. Mas de certo lá estava o Fosch, estudante de Antropologia, com uma visão "estrangeirada" das coisas e do mundo (por estudar em Lisboa, em contacto com o novo mundo), o Armindo na sua postura peculiar e crítica (com uma visão política e filosófica das coisas, muito para além do Senso Comum) e o Raminhos já professor, cursado em Sociologia, com ideias inovadoras mais consistentes sobre o que poderia ser a vila de Alhos Vedros, com mais dinâmica do ponto de vista cultural.Estavam mais pessoas, que a minha memória não alcança, com todo o rigor. Há uma imagem difusa, que me faz recordar do Carlos (com o seu penteado alinhado pelo Setúbal), do Luís Carlos Santos (cabelo comprido e desafiador, também antropologo iniciante), o Henrique Contente (jovem empresário na cidade grande - Barriero) e de outros que também se enebriaram com a bebida iniciática e que mais tarde deram vida a experiências fantásticas que ficaram inscritas na História de Alhos Vedros. E outros e muitos outros que continuaram a "obra", depois de algumas saídas e auto-exclusões, entre eles o Carlos, o Croca, o Vitor Santos o Carlos Vardasca e tantos outros.
A CACAV teria as suas sementes numa crescente necessidade de contra-posição a uma certo "marasmo" e uma certa vivência que apenas oferecia a "esquina" o alcool e a droga, fenomeno emergente nos anos oitenta.

Depois vieram as actividades e que foram tantas, que já nem consigo recordar. A Rádio Opção, que foi adoptada de um Projecto do Luís Paulo Rosa (o Estúdio 54), as famosas Noites de Lua Cheia, os contactos com o grande Agostinho da Silva, os Atliers de Arte, as Escola de Música, as Viagens temáticas sobre o Ambiente, a Escola Aberta, as Homenagens a José Afonso, enfim, um enorme curriculum, que conferem à CACAV o estatuto de uma "jovem madura", com muito para contar.
Muitos foram os episódios e as experiências partilhadas. Muita gente por lá passou e se juntou a este projecto. Lembro de uma estória de Siglas e de Acrónimos, quando se pretendia baptizar a Cooperativa.

A propósito de Siglas e afins e na altura quando a CACAV se estava a iniciar cheguei a propor a sigla/ acrónimo CACA. Achava eu, no alto iluminado dos meus 20 e poucos anos que era uma sigla com mais impacto. Valeram-me a experiência e o bom senso de pessoas mais maduras como o Raminhos (o Grande Raminhos), que me conseguiram demover.
Fiz esta proposta porque achava que nos iriam ouvir, isto num tal Alhos Vedros (dos anos 80) em que nada acontecia. Era o que dizia o Luís Fosh, quando pronunciava uma das suas palavras preferidas: "temos que sair do Marasmo".
"Marasmo" para dizer que nada acontecia e que o mundo em geral e o velho burgo em particular estava à beira da alienação.
Hoje reconheço que marasmo e alienação é o que vivemos hoje se deixarmos de olhar com atenção o que está à nossa volta. Quanto à CACAV faço-lhe a devida continência pelo trabalho desenvolvido até hoje e reconheço que, de modo nenhum, lhe assentaria o acrónimo de CACA, mesmo que isso pudesse ter o impacto que até poderia ter (quem sabe!?).

Um abraço à própria (CACAV) e o reconhecimento pelos serviços culturais que prestou e presta ao Concelho da Moita.

Já agora: quantas Estórias teriamos que contar sobre esta nobre “Instituição” a que toda a gente reconhece com CACAV? Falta escrever sobre a CACAV! Quem será capaz de lançar a primeira letra? Neste caso a segunda letra, com conteúdos capazes de fazer jus ao mérito desta "Casa" fantástica e a todos os que ao longo deste tempo nunca (repito: nunca) abandonaram o "barco" e que, mesmo à bolina, navegaram bem longe, para além dos preconceitos e da inactividade castradora. E agora neste momento apetecia-me falar do Raminhos e de tantos (poucos!) outros que sempre estiveram à frente deste grande fenomeno cultural, a que por mérito e reconhecimento público, se decidiu chamar: Cooperativa de Animação Cultural de Alhos Vedros.

P.S. Que me desculpem, se a minha memória me fez esquecer alguém ou alguma actividade das muitas, que foram desenvolvidas pela CACAV. Penso que outras pessoas, com mais presença e conhecimento do processo de crescimento desta enorme "Instituição", se deveriam sentar ao Computador e deixar o registo do que foram estes vinte anos de notável existência.

Luís Mourinha

4 comentários:

Estudo Geral disse...

Dizer, antes de mais, que gostaria de ter já comentado, mas não consegui disponibilidade, de tempo e mental.

Entremos, então, em matéria de facto:

Tanto quanto me lembro, pois já lá vão quase 23 anos, antes da CACAV constitui-se o Grupo de Animação Cultural de Alhos Vedros que vingou durante dois anos. Só depois se constituiu a CACAV, dando continuação ao projecto que se vinha a desenhar.

Antes do Grupo de Animação existiu a Comissão Cultural da Vélhinha que penso ter também uma relação com a sua posterior fundação. Mas, naturalmente, que as suas raízes vão muito mais fundo. Alhos Vedros tem um passado cultural, associativista, de que se pode orgulhar, na "Vélhinha", no CRI, na Academia, etc..

Revejo-me inteiramente no teu texto quando associa a formação da CACAV ao marasmo cultural que se vivia na terra. Lembro-me, por exemplo, de a ouvir da boca do Armindo Mira, um dos ausentes do teu texto que aproveito para recordar. O "marasmo cultural", um conceito omnipresentíssimo, entre os não identificados com o poder dominante como, penso, era o nosso caso.

E sabes Luis, neste sentido acho justíssimo dizer que a CACAV, como tu dizes, se constituiu como uma das pérolas do concelho, no que diz respeito à dinamização cultural, faroleiro que iluminou caminhos posteriormente seguidos e que se seguirão.

Também achei muito curioso a tua referência ao acrónimo da CACA (obrigado pelo advérbio). Um colega nosso uma vez lançou-me uma pergunta que, confesso, me deixou um pouquinho chocado: "CACAV? Que nome é esse? A Vitória da CACA?" Foi um reparo traumático para mim, de tal forma, que nas jornadas de reflexão que a Cooperativa promoveu no início deste ano, uma das minhas propostas foi a da alteração da sigla. Da sigla e dos estatutos que também estão caducos.

ESTÓRIAS DE ALHOS VEDROS disse...

Claro que me esqueci do Armindo. E não é justo por se tratar de uma pessoa muito importante no Grupo de animação Cultural
Claro que foi este o nome inicial e que me estava a escapar.
Claro que CACA só como acrónimo, porque a CACAV deixou marcas significativas no Concelho. E não forma marcas de pouca importância.

Mas por isso tudo, é que me apeteceu escrever sobre a CACAv e pedindo que alguém pegue na caneta digital e deixe discorrer a memória, para que aqui fiquem registados esses momentos e muitos outros vividos ao longo destes anos.

Mesmo deasactualizado vale por si mesmo. acho eu, não sei?

ESTÓRIAS DE ALHOS VEDROS disse...

Claro que me esqueci do Armindo. E não é justo por se tratar de uma pessoa muito importante no Grupo de Animação Cultural de Alhos Vedros.
Claro que foi este o nome inicial e que me estava a escapar.
Claro que CACA só como acrónimo, porque a CACAV deixou marcas significativas no Concelho. E não foram marcas de pouca importância.

Mas por isso tudo, é que me apeteceu escrever sobre a CACAv e pedindo que alguém pegue na caneta digital e deixe discorrer a memória, para que aqui fiquem registados esses momentos e muitos outros vividos ao longo destes anos.

Mesmo desactualizado vale por si mesmo. Acho eu, não sei?

Luís Mourinha

ESTÓRIAS DE ALHOS VEDROS disse...

Claro que me esqueci do Armindo. E não é justo por se tratar de uma pessoa muito importante no Grupo de Animação Cultural de Alhos Vedros.
Claro que foi este o nome inicial e que me estava a escapar.
Claro que CACA só como acrónimo, porque a CACAV deixou marcas significativas no Concelho. E não foram marcas de pouca importância.

Mas por isso tudo, é que me apeteceu escrever sobre a CACAv e pedindo que alguém pegue na caneta digital e deixe discorrer a memória, para que aqui fiquem registados esses momentos e muitos outros vividos ao longo destes anos.

Mesmo desactualizado vale por si mesmo. Acho eu, não sei?

Luís Mourinha