domingo, 4 de fevereiro de 2007

A FORÇA DO TRABALHO

Memória em verso de um migrante, que substituiu o Alentejo por Alhos Vedros promissor. Decorriam os anos 60 do Século XX quando havia muito trabalho na Cortiça, na Agricultura e nos Texteis. Muita gente veio para perto de Lisboa à procura de melhores condições de vida.
A FORÇA DO TRABALHO
"Trabalho até poder
levantar a enxada;
perdi no campo a saúde
não posso fazer mais nada.
Fui um bom trabalhador,
hoje estou preocupado;
Como já estou reformado
já ninguém me dá valor.
Vá eu onde for
não sei o que hei-de fazer
tenho de compreender
que estou a chegar ao fim,
não tive pena de mim
trabalhei até poder.
Trabalhei de noite e de dia
à chuva, ao frio e ao sol,
nunca fui homem mole;
Trabalhei como sabia
e às vezes até trazia
a roupa toda molhada,
ia ver era suada.
De trabalhar para comer,
às vezes já sem poder,
levantar a enxada.
Comecei a trabalhar
era ainda muito novinho.
Não trabalhava sózinho,
tinham que me acompanhar
talvez para me ensinar.
Eu aprendi como pude,
era um trabalho rude,
um trabalho fatigante
e daí para diante
perdi no campo a saúde.
Em rapaz moço da porta
depois passei a carreiro,
fui servente de pedreiro,
puxei pela foice torta
andei a cavar na horta.
Para ela ser semeada,
ajudei na desfolhada
para o milho debulhar
fartei-me de trabalhar
e não posso fazer mais nada."
Deonilde Lopes Queimado

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