GUARDA-RIOS
A grande mancha de água que vai e vem com a respiração do oceano, ora deixando um lamaçal serpenteado esporadicamente por linhas de água, ora luzindo pela acção do Sol ou reflectindo palpitares nebulosos em trânsito pela profundidade do azul atmosférico, líquido salgado que deforma a quase albufeira ao atirar-se pela planície a dentro, em meandros formados pelo encontro da geometria de arranjos aquíferos e a fronteira natural saída da deposição dos elementos e da colonização vegetal, na pessoa das salgadeiras e variadíssimos pequenos exemplares das floras dos estuários mediterrânicos.
Em frente o céu descai por detrás de um alinhamento de copas sarapintadas pelas silhuetas tridimensionais de hangares plúmbeos, pequenos brinquedos pela força da distância, separadas das esbranquiçadas ondulações por um contínuo de verde.
À direita, do lado onde a aurora se manifesta, na enfiada de um casario multi-color que ladeia a comunhão da terra com o rio sobre uma espécie de abcesso de uma erodida ravina de argila, os esverdeados dos tufos arbóreos e dos campos de pasto e de cultivo, interrompem-se, aqui e ali, pelo efeito de um moinho de maré ou de casas quintas, pluriformes e de cores diferentes.
Consoante vamos rodando, para lá do sapal, no fundo de miniatura, a mescla de casas térreas e prédios, geralmente baixos, um canteiro de torres além, outro acolá e, no fim do avistamento, serrania velha, toda ela verde que, no poente, é abruptamente suspensa pela perpendicular da mancha urbana da periferia e da grande capital, em que um braço industrializado se afoita em istmo pela superfície líquida.
O silêncio feito do arfar de bóreas, materializado, nas ervas e nas ramagens dos arbustos. Uma vez por outra, voos e berrarias de gaivotas, amiúde, piares vários, sobretudo de asas marinhas e, como ruído de fundo, quando a praia mar está distante, permanente e imparável, o fervilhar dos poros do lodaçal.
Aquando da Primavera, é ver o chão explodir em arroxeados minúsculos ou amarelos e brancos que salpicam os acastanhados e o negrume onde impera o verdume rasteiro e perdemo-nos das coisas civilizadas que, daí a pouco, novamente se nos imporão para o sufoco do circo quotidiano.
Mas, por instantes, não custa nada desligarmo-nos daquilo que nos atrofia. No cheiro que do solo brota e paira no ar, renovamos a carne e o espírito para aquilo que tem de vir.
E se, por acaso, nos deixamos ficar até que a abóbada se alaranje, dias há, em cada mês, que podemos ter a sorte de ver o disco lunar amarelando uma esteira imaterial na calmaria de uma das serpentinas espelhadas do estuário.
A grande mancha de água que vai e vem com a respiração do oceano, ora deixando um lamaçal serpenteado esporadicamente por linhas de água, ora luzindo pela acção do Sol ou reflectindo palpitares nebulosos em trânsito pela profundidade do azul atmosférico, líquido salgado que deforma a quase albufeira ao atirar-se pela planície a dentro, em meandros formados pelo encontro da geometria de arranjos aquíferos e a fronteira natural saída da deposição dos elementos e da colonização vegetal, na pessoa das salgadeiras e variadíssimos pequenos exemplares das floras dos estuários mediterrânicos.
Em frente o céu descai por detrás de um alinhamento de copas sarapintadas pelas silhuetas tridimensionais de hangares plúmbeos, pequenos brinquedos pela força da distância, separadas das esbranquiçadas ondulações por um contínuo de verde.
À direita, do lado onde a aurora se manifesta, na enfiada de um casario multi-color que ladeia a comunhão da terra com o rio sobre uma espécie de abcesso de uma erodida ravina de argila, os esverdeados dos tufos arbóreos e dos campos de pasto e de cultivo, interrompem-se, aqui e ali, pelo efeito de um moinho de maré ou de casas quintas, pluriformes e de cores diferentes.
Consoante vamos rodando, para lá do sapal, no fundo de miniatura, a mescla de casas térreas e prédios, geralmente baixos, um canteiro de torres além, outro acolá e, no fim do avistamento, serrania velha, toda ela verde que, no poente, é abruptamente suspensa pela perpendicular da mancha urbana da periferia e da grande capital, em que um braço industrializado se afoita em istmo pela superfície líquida.
O silêncio feito do arfar de bóreas, materializado, nas ervas e nas ramagens dos arbustos. Uma vez por outra, voos e berrarias de gaivotas, amiúde, piares vários, sobretudo de asas marinhas e, como ruído de fundo, quando a praia mar está distante, permanente e imparável, o fervilhar dos poros do lodaçal.
Aquando da Primavera, é ver o chão explodir em arroxeados minúsculos ou amarelos e brancos que salpicam os acastanhados e o negrume onde impera o verdume rasteiro e perdemo-nos das coisas civilizadas que, daí a pouco, novamente se nos imporão para o sufoco do circo quotidiano.
Mas, por instantes, não custa nada desligarmo-nos daquilo que nos atrofia. No cheiro que do solo brota e paira no ar, renovamos a carne e o espírito para aquilo que tem de vir.
E se, por acaso, nos deixamos ficar até que a abóbada se alaranje, dias há, em cada mês, que podemos ter a sorte de ver o disco lunar amarelando uma esteira imaterial na calmaria de uma das serpentinas espelhadas do estuário.
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