Recentemente, ao fazer mais uma visita habitual á nossa praia da “Gorda” e á outra frente ao cais velho, já não recordo o nome, veio-me á memória os meus tempos de juventude, as idas às praias de Alhos Vedros.
Naqueles tempos em que as dificuldades eram outras, o regime era o do outro senhor, os pais eram os chefes da casa, as mães trabalhavam apenas entre as quatro paredes da sua habitação, o salário que entrava era apenas um para uma família de 5 ou 6 pessoas (pois nessa altura a taxa de natalidade era bem mais elevada) a televisão era a preto e branco só para alguns mais abastados e os automóveis contavam-se pelos dedos.
Quando uma viagem esporádica á praia na Figueirinha (uma das poucas praias frequentadas na região) por comboio e camioneta da carreira em Setúbal representava um passeio inesquecível e muito pouco habitual, as gentes cá da terra, em número bastante elevado que chegava para encher os poucos metros quadrados das praias de Alhos Vedros, iam tomar uns banhos de sol e mesmo banhar-se no Tejo.
Em criança a ida era em passeio de família, passávamos primeiro pelos enormes montes de sal existentes no caminho, o encandear daquele brilho branco de neve e os homens trabalhando arduamente sobre o sol ardente do Verão, onde hoje existe o parque das salinas, diga-se bastante apropriado, pois sobre ele jazem elas próprias.
Mesmo aqui tão perto, o caminho revelava-se uma longa caminhada, pois as estradas eram de terra e nessa altura tudo era tão longe, então o ideal era levar o lanche e só voltar no fim do dia.
Para chegar á praia mais próxima era necessário caminhar sempre junto á margem por um caminho estreito em contacto com o rio até chegar á areia branca e limpa que avançava uns razoáveis metros pelo mar. Mais para a frente, já a lama cobria até aos joelhos mas era lama natural, com vida, as águas ainda garantiam uma qualidade boa e as brincadeiras eram suficientes para passar um dia agradável e reconfortante.
Até dava para apanhar conchas, correr atrás dos caranguejos, que nessa altura eram ás centenas, fazer uma cana de pesca artesanal com uma cabeça de carapau como isco e era ver eles a “morder” logo de seguida. Ao chegar a casa pô-los na panela e o petisco era uma maravilha.
Depois na adolescência era as aventuras pela descoberta dos caminhos entre o sapal até á Gorda, a pesquisa de fósseis nas rochas de protecção do mar, observar as multidões de aves, os lagartos, cobras e crustáceos por ali a vaguear.
E daquelas vezes que juntávamo-nos em grupo e tentávamos percorrer os caminhos mais longos, passar todas as valas abertas pelo mar e voltar antes que a maré enchesse o suficiente para impedir a nossa passagem de regresso. É claro que por vezes um de nós ficava atolado na lama devido a um salto acrobático menos conseguido :) ou tínhamos de arregaçar as calças porque a demora foi demais e a maré já tinha coberto a passagem.
Velhos e bons tempos quando a juventude podia passear á vontade com segurança pela freguesia, conhecer a nossa região, descobrir o mundo, passar por experiências, presenciar a natureza e os animais, planear os seus próprios jogos, ter imaginação…
Depois o lixo cobriu as areias brancas, o sal acabou, o rio ficou sujo, os caranguejos desapareceram, os peixes partiram, os caminhos ruíram, entulharam as antigas salinas e viveiros piscícolas que existiam, as pessoas viraram costas ao rio e o abandono instalou-se. Para não falar dos atentados ao meio ambiente, a poluição, a destruição e transformação, a falta de protecção, preservação e valorização da zona ribeirinha.
Gostaria ainda de ver uma só salina com sal, mesmo que só para recordação, um viveiro com peixes e enguias, um museu natural, as praias limpas e utilizadas mesmo que só para apanhar sol, os caminhos tratados, reconstruídos á beira-rio, uma torre de observação de aves que por aqui ainda há, os moinhos reconstruídos, canais abertos para navegar e outros protegidos para os animais procriar e ciclo vias em terra para passear.
Mas isto sou eu…a sonhar…
Naqueles tempos em que as dificuldades eram outras, o regime era o do outro senhor, os pais eram os chefes da casa, as mães trabalhavam apenas entre as quatro paredes da sua habitação, o salário que entrava era apenas um para uma família de 5 ou 6 pessoas (pois nessa altura a taxa de natalidade era bem mais elevada) a televisão era a preto e branco só para alguns mais abastados e os automóveis contavam-se pelos dedos.
Quando uma viagem esporádica á praia na Figueirinha (uma das poucas praias frequentadas na região) por comboio e camioneta da carreira em Setúbal representava um passeio inesquecível e muito pouco habitual, as gentes cá da terra, em número bastante elevado que chegava para encher os poucos metros quadrados das praias de Alhos Vedros, iam tomar uns banhos de sol e mesmo banhar-se no Tejo.
Em criança a ida era em passeio de família, passávamos primeiro pelos enormes montes de sal existentes no caminho, o encandear daquele brilho branco de neve e os homens trabalhando arduamente sobre o sol ardente do Verão, onde hoje existe o parque das salinas, diga-se bastante apropriado, pois sobre ele jazem elas próprias.
Mesmo aqui tão perto, o caminho revelava-se uma longa caminhada, pois as estradas eram de terra e nessa altura tudo era tão longe, então o ideal era levar o lanche e só voltar no fim do dia.
Para chegar á praia mais próxima era necessário caminhar sempre junto á margem por um caminho estreito em contacto com o rio até chegar á areia branca e limpa que avançava uns razoáveis metros pelo mar. Mais para a frente, já a lama cobria até aos joelhos mas era lama natural, com vida, as águas ainda garantiam uma qualidade boa e as brincadeiras eram suficientes para passar um dia agradável e reconfortante.
Até dava para apanhar conchas, correr atrás dos caranguejos, que nessa altura eram ás centenas, fazer uma cana de pesca artesanal com uma cabeça de carapau como isco e era ver eles a “morder” logo de seguida. Ao chegar a casa pô-los na panela e o petisco era uma maravilha.
Depois na adolescência era as aventuras pela descoberta dos caminhos entre o sapal até á Gorda, a pesquisa de fósseis nas rochas de protecção do mar, observar as multidões de aves, os lagartos, cobras e crustáceos por ali a vaguear.
E daquelas vezes que juntávamo-nos em grupo e tentávamos percorrer os caminhos mais longos, passar todas as valas abertas pelo mar e voltar antes que a maré enchesse o suficiente para impedir a nossa passagem de regresso. É claro que por vezes um de nós ficava atolado na lama devido a um salto acrobático menos conseguido :) ou tínhamos de arregaçar as calças porque a demora foi demais e a maré já tinha coberto a passagem.
Velhos e bons tempos quando a juventude podia passear á vontade com segurança pela freguesia, conhecer a nossa região, descobrir o mundo, passar por experiências, presenciar a natureza e os animais, planear os seus próprios jogos, ter imaginação…
Depois o lixo cobriu as areias brancas, o sal acabou, o rio ficou sujo, os caranguejos desapareceram, os peixes partiram, os caminhos ruíram, entulharam as antigas salinas e viveiros piscícolas que existiam, as pessoas viraram costas ao rio e o abandono instalou-se. Para não falar dos atentados ao meio ambiente, a poluição, a destruição e transformação, a falta de protecção, preservação e valorização da zona ribeirinha.
Gostaria ainda de ver uma só salina com sal, mesmo que só para recordação, um viveiro com peixes e enguias, um museu natural, as praias limpas e utilizadas mesmo que só para apanhar sol, os caminhos tratados, reconstruídos á beira-rio, uma torre de observação de aves que por aqui ainda há, os moinhos reconstruídos, canais abertos para navegar e outros protegidos para os animais procriar e ciclo vias em terra para passear.
Mas isto sou eu…a sonhar…
© JJCN
4 comentários:
Amigo Joaquim, será que a praia defronte do Cais que já não lembra o nome é a Praia do António? Também eu já não estou certo, mas os nossos parceiros de bolg não deixarão de confirmar, até porque um deles viveu lá bem perto durante muitos anos.
Sobre o texto devo dizer-lhe que me revejo inteiramente nele. Acabo de reviver parte da minha infância e adolescência através das suas palavras. As praias, as paisagens, a areia, o lodo (recordei-me das cascas de ostra na Gorda que de vez em quando traçavam um pé), as horas da maré, os caranguejos (e a camarinha) que eram petiscos deliciosos sim!
Bem meu amigo, valeu mesmo. Muito obrigado por tão boas recordações que me trouxe. Deviamos pensar todos mais em como ordenar melhor todo este nosso território à beira rio que tantas e boas potencialidades oferece para melhorarmos a nossa qualidade de vida.
Luis Santos
Também eu, andei por lá e tive as mesmas experiências. A Praia da Gorda e a Praia dos Tesos, referências de outros tempos, em ir à Figueirinha era uma aventura para os mais endireinhados.
Luís Mourinha
É sim, claro, a famosa Praia do António. Eram várias as famosas Praias, grandes alternativas à Figueirinha e ao Rosário.
Do outro lado do Cais, no paredão da Corticeira, era a Praia da Corça, para onde o pessoal daquela zona convergia aos Grupos de gente conhecida. O pessoal da Vinha (Vinha das Pedras)juntava-se para o Festival dos mergulhos; mesmo quando as fragatas estavam atracadas à espera de Carga (cortiça), o pessoal brilhava com mergulhos espectaculares. O Acácio, o Menezes, o Banastrinha e muitos outros "davam baile" em piruetas fantásticas.Da Corça era o saudoso Anibal, o Zé Martins e o Toi, pessoal mais velho, mas que não deixava de mostrar as suas habilidades.
Isto foi há muito tempo, mas ainda hoje cá está presente nas memórias de muita gente. Seria difernte se o rio fosse outro,menos poluido e mais azul; seria difernte se as Fábricas da altura despejassesm menos "produto" para o rio Tejo.
o Joaquim não sonha, fala com inteligência, no caso, escreve com ela.
Tarde, é certo -esta vida é um bico de obra- mas há muito que lhe queria dizer que o Joaquim nos presenteou com um texto que responde em pleno ao espírito da proposta com os amigos Luises decidiram em boa hora fazer neste espaço de encontros. O testemunho que nos legou a respeito da Helly Hansen está no melhor estilo das memórias e acredite-me que seria sempre uma referência a considerar em qualquer trabalho do domínio sociológico ou até etnológico a respeito do universo de uma unidade de produção, quer em termos gerais quer em termos especiíficos da zona geográfica a que nos reportamos, o mesmo acontecendo para disciplinas da história como a maneira de viver das classes trabalhadoras ou a narrativa da vida fabril num determinado período e lugar. E fê-lo com bom gosto e sensibilidade, proporcionando uma leitura cheia de interesse e boa de se seguir.
Aqui expressa a liberdade habituada ao campo aberto que se confronta com um bocage que estranhamente se forma onde não deveria e aparecer e onde será mesmo duvidoso que assim possa ser.
Um abraço, companheiro
Luís
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