1986. Já na altura, encontrar emprego era uma tarefa árdua. Tal como hoje, a melhor maneira de o conseguir era através de um conhecimento no lugar certo. Um amigo da família, disponibilizou-se para arranjar uma entrevista com o respectivo responsável da Empresa Multinacional de confecções Helly Hansen.
Dias depois era iniciada uma jornada que haveria de durar 13 anos. A função inicial foi como Cortador. Três meses depois o contrato foi renovado por mais seis, mas agora no Armazém. A função era embalar o produto acabado para exportar a variadíssimos países da Europa.
A empresa estava no auge, com encomendas em larga escala, as vendas estavam em grande, o saldo era positivo. Embora as Costureiras mantivessem um ordenado muito perto do Salário mínimo, os chefes, encarregados e direcção, eram bem pagos.
O espaço era já muito reduzido para tamanho volume de material existente, os Gerentes sucediam-se uns atrás dos outros periodicamente, novos materiais e vestuário eram acrescentados a uma lista já bastante razoável.
Entretanto o cargo passou a Conferente e a função resumia-se a conferir todas as entradas e saídas do material existente no Stock e respectiva organização. O salário já se apresentava muito satisfatório, mas as condições de trabalho, as preocupações, as pressões exercidas e a responsabilidade, eram agora mais acrescidas.
Com muito trabalho, dedicação, intervenção e muita iniciativa, foi normal a promoção para Chefe de secção. Mais compensações, responsabilidade máxima e agora, pessoas a cargo para gerir e incentivar.
A empresa continuava a crescer, era altura de aumentar as instalações, foi então construído o prolongamento do Armazém e um edifício totalmente novo de dois andares para os escritórios, corte e produção.
O trabalho multiplicava-se a olhos vistos, foi iniciado outro método de trabalho, novo Gerente, novos Encarregados, pressão duplicada e a fabricação e saída do produto era agora quase instantânea.
Apareceram novos problemas, o novo Encarregado do Stock, um Sueco, exigia esforços aplicados, prometia um futuro risonho, mais remuneração, novas categorias profissionais, mas não admitia atrasos.
Embora a Empresa funcionasse relativamente bem, a organização era deficiente, a adaptação aos novos métodos muito difícil, a Gerência estava um pouco confusa, as coisas não corriam ás mil maravilhas e os trabalhadores e chefes de secção tinham muitas dificuldades em levar por adiante o seu trabalho.
No fim do seu mandato o Encarregado saiu de cena e deixou por cumprir todas as promessas, deixando os trabalhadores e chefes totalmente insatisfeitos com a situação. Estava instalada a injustiça e desmotivação. O novo encarregue de o substituir, acabou por manter o sistema e o conflito generalizou-se, com confrontações e resultante complicação entre todos, os Encarregados com chefes, estes com os trabalhadores e os mesmos com a gerência.
A luta exigia novos métodos e um deles era lutar pelos nossos direitos, então no caso de alguns, o Sindicato era o caminho certo para levar a efeito esse objectivo, as exigências legítimas dos trabalhadores.
Não era normal um Chefe de secção ser Dirigente Sindical, mas era hora para agir, pois a Empresa dava sinais de alguma inquietação com falta de encomendas, produtos acumulados em Stock, ineficiência, constante alteração de chefias, etc.
A luta Sindical foi intensificada, lutava-se agora pela manutenção dos postos de trabalho, segurar os trabalhadores aliciados por um despedimento por comum acordo, impedir tentativas de despedimento por presumível justa causa.
As reuniões com a Gerência eram cada vez mais difíceis e os acordos para aumento de salário e manutenção dos nossos direitos, quase impossíveis.
Dias depois era iniciada uma jornada que haveria de durar 13 anos. A função inicial foi como Cortador. Três meses depois o contrato foi renovado por mais seis, mas agora no Armazém. A função era embalar o produto acabado para exportar a variadíssimos países da Europa.
A empresa estava no auge, com encomendas em larga escala, as vendas estavam em grande, o saldo era positivo. Embora as Costureiras mantivessem um ordenado muito perto do Salário mínimo, os chefes, encarregados e direcção, eram bem pagos.
O espaço era já muito reduzido para tamanho volume de material existente, os Gerentes sucediam-se uns atrás dos outros periodicamente, novos materiais e vestuário eram acrescentados a uma lista já bastante razoável.
Entretanto o cargo passou a Conferente e a função resumia-se a conferir todas as entradas e saídas do material existente no Stock e respectiva organização. O salário já se apresentava muito satisfatório, mas as condições de trabalho, as preocupações, as pressões exercidas e a responsabilidade, eram agora mais acrescidas.
Com muito trabalho, dedicação, intervenção e muita iniciativa, foi normal a promoção para Chefe de secção. Mais compensações, responsabilidade máxima e agora, pessoas a cargo para gerir e incentivar.
A empresa continuava a crescer, era altura de aumentar as instalações, foi então construído o prolongamento do Armazém e um edifício totalmente novo de dois andares para os escritórios, corte e produção.
O trabalho multiplicava-se a olhos vistos, foi iniciado outro método de trabalho, novo Gerente, novos Encarregados, pressão duplicada e a fabricação e saída do produto era agora quase instantânea.
Apareceram novos problemas, o novo Encarregado do Stock, um Sueco, exigia esforços aplicados, prometia um futuro risonho, mais remuneração, novas categorias profissionais, mas não admitia atrasos.
Embora a Empresa funcionasse relativamente bem, a organização era deficiente, a adaptação aos novos métodos muito difícil, a Gerência estava um pouco confusa, as coisas não corriam ás mil maravilhas e os trabalhadores e chefes de secção tinham muitas dificuldades em levar por adiante o seu trabalho.
No fim do seu mandato o Encarregado saiu de cena e deixou por cumprir todas as promessas, deixando os trabalhadores e chefes totalmente insatisfeitos com a situação. Estava instalada a injustiça e desmotivação. O novo encarregue de o substituir, acabou por manter o sistema e o conflito generalizou-se, com confrontações e resultante complicação entre todos, os Encarregados com chefes, estes com os trabalhadores e os mesmos com a gerência.
A luta exigia novos métodos e um deles era lutar pelos nossos direitos, então no caso de alguns, o Sindicato era o caminho certo para levar a efeito esse objectivo, as exigências legítimas dos trabalhadores.
Não era normal um Chefe de secção ser Dirigente Sindical, mas era hora para agir, pois a Empresa dava sinais de alguma inquietação com falta de encomendas, produtos acumulados em Stock, ineficiência, constante alteração de chefias, etc.
A luta Sindical foi intensificada, lutava-se agora pela manutenção dos postos de trabalho, segurar os trabalhadores aliciados por um despedimento por comum acordo, impedir tentativas de despedimento por presumível justa causa.
As reuniões com a Gerência eram cada vez mais difíceis e os acordos para aumento de salário e manutenção dos nossos direitos, quase impossíveis.
Então para surpresa de todos, foi anunciada a venda da Empresa e respectiva deslocação para o Leste da Europa.
O comprador da Helly Hansen era um português que já era conhecido por fechar definitivamente outras empresas do ramo. A empresa passou de Internacional a nacional e o nome foi alterado, para Norporte S.A.
O futuro adivinhava-se negro e os trabalhadores sentiam que o fim estava muito próximo.
Ser Chefe e Sindicalista eram dois cargos incompatíveis que a muito custo eram exercidos nesta situação, com muito esforço e desgaste.
As reuniões sucediam-se a um ritmo impressionante, entre os sindicalistas e com a Gerência, plenários com os trabalhadores, greves e denuncia aos meios de informação e Ministério do trabalho.
Os despedimentos por comum acordo sobre pressão e saída de trabalhadores para outras empresas estavam na ordem do dia.
Por fim, chegou o dia da falta de encomendas, dos salários em atraso, o fim anunciado.
O sindicado organizou mais greves, reuniões com todos os envolvidos, com a Câmara municipal, com o Ministro da Economia e começou a preparar-se para o inevitável.
Os trabalhadores tentaram por todos os meios a viabilização da Empresa, mas a gerência acabou por anunciar a falência da Norporte.
A partir daqui, foi o desânimo geral, a tristeza de após tantos anos de dedicação, ver mais uma empresa em Portugal fechar e o desemprego a bater á porta.
O comprador da Helly Hansen era um português que já era conhecido por fechar definitivamente outras empresas do ramo. A empresa passou de Internacional a nacional e o nome foi alterado, para Norporte S.A.
O futuro adivinhava-se negro e os trabalhadores sentiam que o fim estava muito próximo.
Ser Chefe e Sindicalista eram dois cargos incompatíveis que a muito custo eram exercidos nesta situação, com muito esforço e desgaste.
As reuniões sucediam-se a um ritmo impressionante, entre os sindicalistas e com a Gerência, plenários com os trabalhadores, greves e denuncia aos meios de informação e Ministério do trabalho.
Os despedimentos por comum acordo sobre pressão e saída de trabalhadores para outras empresas estavam na ordem do dia.
Por fim, chegou o dia da falta de encomendas, dos salários em atraso, o fim anunciado.
O sindicado organizou mais greves, reuniões com todos os envolvidos, com a Câmara municipal, com o Ministro da Economia e começou a preparar-se para o inevitável.
Os trabalhadores tentaram por todos os meios a viabilização da Empresa, mas a gerência acabou por anunciar a falência da Norporte.
A partir daqui, foi o desânimo geral, a tristeza de após tantos anos de dedicação, ver mais uma empresa em Portugal fechar e o desemprego a bater á porta.
Ainda se verificaram acontecimentos posteriores habituais nestas ocasiões, com o final apoteótico da ultima tentativa dos trabalhadores em salvaguardar a saída do equipamento e produtos da empresa, numa celebre noite de Verão de 1999, onde foi totalmente aniquilada pela força de intervenção da policia de choque. Um final muito “adequado e justo” para estes trabalhadores e trabalhadoras, muitos dos quais com mais de vinte anos de trabalho consecutivo na Helly Hansen Internacional.
Tudo isto foi relevante para Alhos Vedros, porque com o encerramento da HH, as consequências afectaram não só os intervenientes, como as famílias dos mesmos (muitos dos quais moradores na Vila) como também os comerciantes que tinham como clientes grande parte dos trabalhadores.
Após 13 anos nesta empresa, com um salário bastante agradável, uma função dignificante e uma estabilidade profissional e pessoal evidente, tudo se desvaneceu.
O desemprego era uma realidade, com 35 anos de idade adivinhava-se tempos difíceis, ainda mais com o País a entrar numa crise profunda que haveria de durar até ao momento presente e está longe de acabar.
A fábrica agora entregue ao abandono, esperando a decisão do tribunal, decerto com expectativas pouco animadoras para os trabalhadores credores, vê outros acontecimentos a ser efectuados no seu interior, todos os dias “trabalhadores” do vício vão para lá laborar arduamente.
Fica a recordação de muito trabalho, ingratidão, tempo perdido, insatisfação e suor, mas também algumas alegrias, amizades conquistadas, aprendizagem, momentos especiais e uma experiência de vida única.
Aqueles almoços anuais entre todos os elementos do Stock, passados em alegre cavaqueira e a garrafinha de moscatel roxo obrigatória para acabar o dia da melhor maneira.
Os Natais, sempre muito especiais, com as habituais trocas de prendas e as festas nos diversos sectores da empresa.
Eventos importantes, como aquele da entrega do certificado de qualidade, com a presença do dono da HH, ministros, presidente da câmara, etc. Uma festa de arromba, aproveitada para saborear pela primeira vez o tão famoso caviar.
As corridas de empilhadores, os concursos de “setas no alvo”, nas horas mortas.
Os cursos de inglês, chefia, informática á borla, a equipa de futebol de salão, etc., etc.
Velhos tempos…
© JJCN 07
Tudo isto foi relevante para Alhos Vedros, porque com o encerramento da HH, as consequências afectaram não só os intervenientes, como as famílias dos mesmos (muitos dos quais moradores na Vila) como também os comerciantes que tinham como clientes grande parte dos trabalhadores.
Após 13 anos nesta empresa, com um salário bastante agradável, uma função dignificante e uma estabilidade profissional e pessoal evidente, tudo se desvaneceu.
O desemprego era uma realidade, com 35 anos de idade adivinhava-se tempos difíceis, ainda mais com o País a entrar numa crise profunda que haveria de durar até ao momento presente e está longe de acabar.
A fábrica agora entregue ao abandono, esperando a decisão do tribunal, decerto com expectativas pouco animadoras para os trabalhadores credores, vê outros acontecimentos a ser efectuados no seu interior, todos os dias “trabalhadores” do vício vão para lá laborar arduamente.
Fica a recordação de muito trabalho, ingratidão, tempo perdido, insatisfação e suor, mas também algumas alegrias, amizades conquistadas, aprendizagem, momentos especiais e uma experiência de vida única.
Aqueles almoços anuais entre todos os elementos do Stock, passados em alegre cavaqueira e a garrafinha de moscatel roxo obrigatória para acabar o dia da melhor maneira.
Os Natais, sempre muito especiais, com as habituais trocas de prendas e as festas nos diversos sectores da empresa.
Eventos importantes, como aquele da entrega do certificado de qualidade, com a presença do dono da HH, ministros, presidente da câmara, etc. Uma festa de arromba, aproveitada para saborear pela primeira vez o tão famoso caviar.
As corridas de empilhadores, os concursos de “setas no alvo”, nas horas mortas.
Os cursos de inglês, chefia, informática á borla, a equipa de futebol de salão, etc., etc.
Velhos tempos…
© JJCN 07
4 comentários:
Espero que a Estória não seja demasiado exaustiva e tenha algum interesse :)
A história tem um grande interesse e está muito bem descrita.
A Helly Hansen, à semelhança de outras fábricas de confecção têxtil marcaram um período de extraordinária importância em Alhos Vedros.
Muitas fábricas de confecções que no período áureo, bem contadas seriam acima da dezena, algumas delas com mais de uma centena de trabalhadores, traziam a Alhos Vedros diariamente muita gente que no intervalo para o almoço faziam a alegria dos comerciantes da terra, naquilo que contribuiam para a prosperidade do negócio.
Hoje como sabemos a indústria têxtil e corticeira, entre outras de menor importância na economia da região, praticamente não existem, ou existem em formas muito residuais. E tudo se alterou, mais ou menos, há meia dúzia de anos, com a entrada no novo século. Estas estórias são por isso fundamentais para que bem se compreenda parte do património cultural recente deste nosso sítio.
Muito Obrigado.
Luis Santos
Já percebi porque houve problemas com a chegada de correio. O último e-mail que nós indicámos no blog estava errado. Em vez de velhos.alhos é vedros.alhos@gmail.com .
O erro foi corrigido no respectivo "ppost".
Luis Santos
Ainda hoje conto esta Estória aos meus alunos:
Aos 14 anos, ainda a frequentar o 9º Ano, marquei posição lá em casa. Estava farto da Escola. Disse ao meu pai, em tom de desafio:"tou farto! Quero ir trabalhar. Preciso de ganhar dinheiro". Perante a minha insistência, o meu pai considerou a hipótesee conseguiu-me trabalho nas Obras da Norport.
Trabalhei dois dias e voltei à vida, com os olhos no futuro. Não suportei a dureza do trabalho e a incerteza do futuro.
P.S. Conto esta Estória num Post publicado no Blog.
Agraddeço ao JJCN por me ajudar a recordar este pedaço da minha vida.
Luís Mourinha
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