quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Proposta temática para debate no MFI (1)


O amor na modernidade

Numa sociedade em que a própria sede da economia moral parece invadida pelas forças do mercado consumista, e a fragilidade dos laços humanos prepondera, qual o significado do amor numa dualidade de perspectivas?

- o amor no relacionamento entre dois seres humanos (evitam-se exponencialmente compromissos para uma vida e o amor caracteriza-se por uma presença líquida (Bauman), procura-se o enamoramento pela Internet, e os próprios filhos surgem amiúde como objectos de consumo emocional). O que significa amar alguém ?

- o amor à humanidade (amar os nossos semelhantes exige um acto de fé e significa a transição dum estado de sobrevivência para um estado de moralidade; todavia existe o paradoxo das próprias cidades, que constituem no seu âmago verdadeiros campos de refugiados, incentivam a xenofobia e promovem a segregação das classes sociais). Podem a partilha, a solidariedade e a fraternidade para com os nossos semelhantes prevalecer na modernidade ?

Flávio M.

29 comentários:

Estudo Geral disse...

Creio que o Amor é um estado de alma.

É ao mesmo tempo um sentimento, uma atitude e uma entidade. Inclui sempre em si o Outro e o Mundo.

É assim como maravilhosa melodia de um pássaro azul, no alto de um ramo verde, numa mnhã de sol de um dia de Inverno.

O Amor pode ser simultaneamente amizade, enamoramento e paixão, por um outro alguém ou pela Humanidade inteira, universo fora.

Disse bem, Creio.

Luis Carlos

MJC disse...

O SOL É UMA ESTRELA .

A propósito do amor:

O sol é uma estrela, ponto final.

Pretende-se uma definição para: amor ?!!!
Que coisa mais estapafúrdia, parece-me.
Ou antes, considero.
O amor é e pronto.
O amor sente-se e pronto.
Ama-se porquê ?!
Não se trata de uma equação. O denominador (poderá ser isso a racionalidade ?) varia de caso p’ra caso. Sendo certo que “quem melhor conhece o amor é quem ama não quem é amado”
Quem ama jamais duvida da sua possibilidade já que a sua própria existência o comprova.
(…) Ah mas que ninguém me peça definições (…)
O amor, amar, acontece antes de todas as explicações.E, até mesmo, depois de todas as injustificações.
É por isso mesmo que existe a dor.

Quanto à partilha, à solidariedade e à fraternidade é claro que podem prevalecer na modernidade e sempre.
Basta sentir o outro.
Em se mantendo em nós (e em cada um) a capacidade dessa percepção, manifesta-se também, intacta, a possibilidade do amor.
Chegamos a essa compreensão por apalpação. Onde se revela a visão de dentro e a nossa finitude desmesurada.
No mundo dos sentidos , o desmedido impera e a alma consegue elevar-se no deslumbramento que emana da luz.
A luz existe.
A luz há.
Apesar de tanta escuridão e tanto desconforto. Apesar de tanto desamor e tanta solidão. Tanto não querer mais, tanto desistir antes. Tanta prisão de dentro, tanto grito amordaçado. Tanta fome e tanto desperdício. Tanto não poder ser quando o “ser” tudo pode, ou quase. Tanta fronteira, tanto limite, tanto sonho fragmentado (a cabeça cheia de fragmentos de ideias prodigiosas). Apesar, apesar, apesar,… há a luz, não se duvide.
Luz-espelho-reflexo-do-outro. A parte de nós que falta e que, contudo, também nos pertence. Que nos completa. Luz … O sol é uma estrela. Há luz. É possível a vida "bela".Não hipotequemos o futuro.

m. joão

Flávio M. disse...

Manuel João,

primeiramente anoto com gratitude a espontaneidade, a profundidade e a estética do seu contributo, sedeada numa perspectiva de cariz ontológico, logo universal. Procura-se a significância do amor à luz dos vectores realistas da existência e das irreversíveis evoluções que afectam a sua interiorização e a sua manifestação.Não há definição para o amor...
O sentimento não se racionaliza e será sempre uma equação de resultado amplo e infinito. Mas move o mundo de dentro e o a fenomonologia do espírito. É perene e transforma. Anima a ordem universal do universo e redigiu a as leis da causa e da consequência. O belo reflecte em si, em mim e em todos os nossos semelhantes, e os tentáculos da sua luz tocam a própria consciência.
Não hipoteca o futuro quem ama o próximo e a humanidade. Hoje há ainda e uma vez mais sol para todos nós ! Vamos falar de amor.

Flávio M.

philos disse...

Desculpe Flávio, mas sei definir a palavra amor, com letra maiúscula, ou minúscula. Não consigo catalogar os sentimentos e talvez seja esse um dos grandes equívocos da minha existência.

philos disse...

"... não sei ..."

Flávio M. disse...

Luís,

alguém a quem muito amo me dizia num dia de chuva que a paixão acontece e pronto...Diferente é o amor !
Num livro de autor anónimo precisamente denominado de "Estados de Alma" afirmava-se na introdução que o amor é o mundo, a beleza e o fonema da onda que veste a areia nua da praia infinita no dealbar do dia. Afirmava ainda que a esposa a quem amava acima do mundo significa o maravilhamento da vida e plenificava o seu universo. E que o seu canto da felicidade que lhe trouxera o amor, o encontrara pela luz dum olhar cor da alma, que o sol numa manhã de neve ousou verter no silêncio do seu coração.
Palavras bonitas ? Finitude do Outro ? A busca do Ser ? Amor à Vida na imortalidade da beleza derramada no tempo do Mundo.

Flávcio M.

Flávio M. disse...

Philos,

a subjectividade e a universalidade nunca serão catalogáveis....O que ama, como ama e a quem ama você ?

Flávio M.

Estudo Geral disse...

Creio que a dissonância, se é que ela existe, o que não me parece, é entre o Amor e o amor.

Luis Carlos

Felicidade na Educação disse...

O amor flui no espaço-tempo-velocidade para o Amor.

Felicidade na Educação disse...

As forças interrogativas e as forças exclamativas (admirativas) consomem-se e reproduzem-se nas forças amorosas.

Quando o amor está sujeito a adversidades estraga-se.

Acima deste há algo que é incorruptivel... o quê?.. é uma emoção criadora... mais não sei.

ESTÓRIAS DE ALHOS VEDROS disse...

Puxa, que linda e interessante con-versa está a passar por aqui.

CIDE disse...

O "amor é o amor", diria La Palisse. E essa ainda é a melhor definição. Porque isso que se chama de amor é algo que se sente.
Mas há outra e essa é a Camões: "é esse contentamento descontente"

CIDE disse...

"O amor é o amor", diria La Palisse. E essa ainda é a melhor das definições de amor. Porque isso que se chama de amor é algo que se sente e que não se explica. Amor é pura emoção e pouco mais do que isso (o que já é muito).
Mas há outra definição e essa é a Luís de Camões: "é esse contentamento descontente"

Luís de Mourinha

Inês disse...

Amor....Ora aí está uma coisa em que ainda me considero completamente analfabeta.
Sendo Amor aquele que se surge inexplicavelmente por alguém, muitas vezes contra os argumentos da própria razão, só sei dizer que chego sempre à mesma conclusão: amo demais e sofro de uma timidez fulminante e uma espécie de branqueamento cerebral que ainda não consigo contornar.
Relactivamente ao amor pelo próximo, a que eu chamo de aaaaaamor que se espalha em redor como quem espalha sorrisos, só sei que leva muita gente a pensar que, para ser tão simpática ou sou parvinha ou quero alguma coisa, e quando me apercebo disso incomoda-me bastante, e antigamente costumava perder horas e dias a ponderar o que teria eu feito, o que nunca resolveu nem esclareceu nada. Afinal amizades verdadeiras há muito poucas, e sendo poucas têm algo de curioso: emitem como que um reflexo de mim, mas de outra perspectiva, porque os amigos de verdade não têm medo de dizer o que pensam, mesmo quando não é bom, porque estão de coração aberto e só querem ajudar...
Uma dessas amizades e que eu prezo muito é a Philos que também aqui escreve.
Um beijinho para ti Philos :)

Unknown disse...

Boa noite !

A proposta temática parece querer resposta para o modo como a perda de valores da sociedade moderna altera o amor entre dois seres humanos e o amor dos seres humanos à humanidade, e procura na fractura de princípios a deformação do significado de amar, invocando a liquidez como imagem da sua efemeridade. Poderá na verdade o contexto social deturpar a natureza do amor ?
O amor não é compromisso e penso que a sua essência é intemporal e invariante.
Thanks

Eduardo P.

@--}--- de £ótus disse...

"Eu fazia do amor, um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil."
(Clarice Lispector)

philos disse...

Flávio:

Sem querer ser ofensiva, quem amo,como amo, convenhamos que diz respeito exclusivamente a mim, certo? Com consideração bem haja por escrever tão poéticas estórias.

philos disse...

Inês:

Muitos beijinhos tb para ti, minha linda e também eu prezo muito a tua amizade sincera.

Unknown disse...

É verdade Flor de Lotus ! Se soubéssemos o mistério da operação aditiva das incompreensões, o resultado seria certamente o segredo do Amor...

Fernando M.

ESTÓRIAS DE ALHOS VEDROS disse...

A síntese perfeita: Amar o Amor (ou Amor é mesmo Amar).

Luis Santos

COMISSÃO NACIONAL DA EDUCAÇÃO BASEADA NA CONSCIÊNCIA disse...

O Banquete de Platão - é isto... e mais ainda.

Estudo Geral disse...

Mais o quê?

COMISSÃO NACIONAL DA EDUCAÇÃO BASEADA NA CONSCIÊNCIA disse...

Aquilo que cada um quiser banquetear - digo eu.

Estudo Geral disse...

Boa. Então digamos que: Amor (também) se faz na cozinha?...

Unknown disse...

Parece que mandaram a modernidade dar uma volta-....Desvirtuaram o amor platónico. Agora virou banquete onde todos satisfazem a sua gula.....Espíritos magrinhos !!!
Lá que o tema sofre....sofre.
Thanks
Eduardo P.

Felicidade na Educação disse...

O Amor é o alimento da alma no banquete do universo.

Banquetear é fluir na devoração mútua dos eus.

É digerir e fazer os downloads das mundivivências uns dos outros, é um indistinto dar-receber infinito.
Nos autocarros, nas cozinhas, nos blogues, onde houver esta doce contaminação de generosa inocência.

É uma fria embriaguez na racionalidade delirante... em busca do outro lado do Sol.

Estudo Geral disse...

Hoje o coração (o Amor) pede-me silêncio. E eu dou...

Flávio M. disse...

"Um coração solitário não é um coração"...Mesmo na voz do silêncio, mesmo no fragor das batalhas.

Flávio M.

Unknown disse...

Estimado Eduardo ES !

A estética e a hermenêutica da sua prosa são como sempre únicas e gratificantes. Outros comentários são igualmente únicos. Mas (diga Flávio) não vejo um texto tão "terreno" como provavelmente seria expectável. Nem como as alterações sociais afectam o relacionamento individual nem o que pensamos das minorias, dos "gethos" olvidados nos limítrofes de cidades ou enclaves....Não podemos pairar acima da realidade deste mundo, por muito que o corpo seja apenas um veículo rudimentar e o prólogo para alcançar o Amor.
Eduardo P.