quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Dar e Receber

Dar e receber

Diz quem experimentou, que: “quem dá, recebe em troca muito mais do que deu”.
Claro que depende do que se dá e da intenção da dádiva. Se for interessadamente, com contrapartidas, pode receber-se muito mais ou muito menos do que se deu. Mas matemáticas a parte, dar é um acto de inquestionável valor.
O que eu questiono é o seguinte:
- Porque é que hoje em dia se dá muito menos do que se dava?
- Será que o acto de dar está em crise?

Uma jovem de 20 ano que eu conheço, depois dos dias passados na faculdade e de todos os afazeres próprios de uma jovem, conseguiu organizar-se para se dedicar ao voluntariado. Todas as semanas dedica algumas horas do seu tempo a ocupar crianças desprotegidas entregues uma Instituição Social. Nesse tempo simplesmente brinca, conta estórias e sempre que pode leva com ela umas lembranças. Pediu-me brinquedos e roupas para compensar as carências dos seus amiguinhos. E para finalizar a conversa sentenciou com um orgulho sentido: “recebo muito mais do que lhes dou”.


Só umas questões para reflexão:
- Quem é que dá?
- Porquê dar?
- O que é dar, no verdadeiro sentido da palavra?

Ass: Dialógico

10 comentários:

Felicidade na Educação disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Flávio M. disse...

Tenho tido a felicidade de participação em diversas acções de voluntariado no âmbito das actividades de cidadania da empresa em que colaboro, a última das quais (na praia do Tamariz-Estoril) com crianças de grau severo de deficiência em regime de internato ou de tratamento do Centro do Alcoitão. Tento dar o melhor de mim, pela nobreza do coração ou pela elevação do espírito, mesmo na incompletude da minha condição de ser. Sinto que apesar de toda a ajuda prestada nos movimentos básicos de sobrevivência digna, o que melhor dou de mim é a sinceridade dos sorrisos, o carinho dum beijo, ou a eternidade das palavras. E sou feliz, tão feliz como gostaria que fossem todos aqueles a quem procuro instancialmente auxiliar, porque deles recebo o universo da coragem, a força da dignidade, a alegria da brevidade, a partilha pueril e desinteressada que imortaliza a beleza das pequenas coisas da existência. E no fim da jornada, ao olhar na praia vazia a espuma que veste o expiar das ondas, entendo acima do meu mundo dos desejos um mundo vital em que a ordem do universo fala a linguagem do amor. Louvo a força do Sol, a bravura do mar, o recolher da noite e peço à brisa de Deus a dádiva, um sopro cósmico inextinguível que alumie e anime em segredo aquelas existências.

Flávio M.

Felicidade na Educação disse...

D A R



Perguntei à flor quem te deu
o brilho da beleza
foi a minha roseira
perguntei à roseira
quem te deu o verde viço
foram as estrelas, o sol, o vento, a doce lua e a terra húmida da chuva
perguntei às estrelas, ao sol, ao vento, à doce lua e à terra húmida da chuva
quem vos deu os hinos que cantais ao espanto de viver
foi a natureza
a quem perguntei quem lhe deu a arte de esconder segredos
foi aí que me dirigi aos segredos
que me responderam quem nos deu foi
D'eus



eduardo espírito santo



NOTA: Tínha-me esquecido da amiga Lua.

Estudo Geral disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Estudo Geral disse...

Hoje em dia não damos muito menos do que dávamos, bem pelo contrário. Damos é de maneira diferente.

Por isso devemos dizer que o acto de dar não está em crise, ou que pelo menos a crise não é geral.

Dá quem pode dar e tem capacidade para...

Dar é oferecer, ceder gratuitamente, mas tem muitos outros significados interessantes, de acordo com o Dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora, como por exemplo,transferir, incumbir, exalar, consagrar, pagar, encontrar-se, ir ter, descobrir, manifestar-se.

E damos porque gostamos dos outros (e do mundo), e também porque queremos que os outros gostem de nós.

Bem, mas como diz na televisão, "há dar e dar, há ir e voltar".

Agora lá que os testemunhos que nos oferecem o Flávio e a amiga do Dialógico são dádivas grandiosas, disso parece não haver dúvidas.

Dêm, pois.

Luis Carlos

CIDE disse...

Caro amigo Luís Carlos, ainda bem que verificaste os significados de "dar". Dão-nos uma perpectiva mais abrangente da palavra e dos actos a ela associados.

Mas o "sentido" do DAR é tão variável, quanto as pessoas. Penso que dependerá das motivações e dos interesses de cada um.
Contudo, penso que o dar desinteressado sem expectativas de retorno é o mais valioso de todos.

Não sei se hoje damos, como antes se dava. Nisso tenho dúvidas e até discordo de ti. Não sei!

Dialógico

Felicidade na Educação disse...

Se puderem dar uma vista de olhos pelo poema O dom, ou a Dádiva, (consoante os tradutores) de Khalil Gibran, no seu famoso 'O Profeta'- dêem. Vale.

Estudo Geral disse...

Amigo Dialógico,
quando eu disse que damos, estava a falar do pessoal aqui da casa. Tu estás a falar de uma forma mais abrangente e, nesse sentido, eu também vacilo, tal como tu.

Mas pronto, deixemos isso. Fui buscar "O Profecta" à estante, Livro que me ofereceu o Amigo Eduardo em 1992...

"O Dom" é um poema grandote e que por isso não vou reproduzir todo aqui. Mas começa de uma forma logo tão elucidativa que eu partilho convosco os primeiros versos e mais alguns...

Então um homem rico disse:
- Fala-nos do Dom.

E ele respondeu:
-Dais muito pouco,
quando dais daquilo que vos pertence.

Quando vos dais a vós mesmos
é que dais realmente.

Que é aquilo que vos pertence,
senão coisas que conservais ciosamente,
com medo de vir a precisar delas amanhã?

(...)

Alguns dão pouco
do muito que têm,
e fazem isso em troca do reconhecimento,
e o seu desejo oculto
corrompe os seus dons.

Outros têm pouco
e dão tudo.

Estes são os que acreditam na vida,
na bondade da vida,
e o seu cofre nunca está vazio.

(...)

Portanto, dai agora,
para que o tempo de dar seja vosso
e não dos vossos herdeiros.

(...)

Porque ligar demasiada importância
à vossa dívida
é duvidar da sua generosidade,
que tem por mãe a Terra magnânima
e Deus como Pai.

philos disse...

"Que mais poderei dizer dos “olhos da minha alma”, dessas várias tonalidades de verde, azul, cinzento, castanho e amarelo, através dos quais tento transmitir: alegria, força, esperança? Que daria a minha vida pelos que amo? Que tento colorir tudo à minha volta? Que amo as flores e sinto um imenso jardim interior, como o que envolve a minha casa?

Tanta coisa para dizer! Pergunto-me se a cor dos meus olhos terá alguma ligação com o meu amor aos outros? Esse amor, tantas vezes mal compreendido… Agora, ao falar de compreensão ocorreu-me o quanto é importante vermos o Mundo, com um olhar compreensivo; com sabedoria. Sabedoria, lucidez, auto domínio, como são importantes na nossa existência! Existência essa, com um propósito, que cabe a cada um de nós, descobri-lo e valorizá-lo."

Flávio M. disse...

Continue sempre a dar Philos o que o seu coração lhe clama !

O amor desinteressado e solidário não espera retribuição nem glória, mesmo que a mágoa povoe as incompreensões dos seus gestos e a subjectividade das suas palavras.
Os olhos são o espelho da alma e o coração engrandece-se com aquilo que dá !

Flávio M.