Início do Sermão de Sto. António aos Peixes
1.
Profetizar que Portugal vai construir na Terra o V Império, porque já tinham havido Quatro, depois de ele já estar construído, não tem, digamos, nada de muito especial, não fora o facto de ter sido declarado ao arrepio da Santa Inquisição.
Por outro lado, ser amigo dos índios escravos e protegê-los contra o poder instituído dos colonos, naquele tempo, parece-nos sem dúvida coisa de um homem de coragem e de coerência de princípios, capaz de arriscar a própria vida na defesa dos direitos dos mais desfavorecidos.
Sabemos como é difícil hoje aos homens cultos dizerem aos nossos governantes que é uma vergonha nacional, a maioria dos imigrantes a trabalhar em Portugal serem sonegados de parte significativa dos seus direitos laborais, nas horas de trabalho, no vencimento, na segurança social, relembrando tempos passados. Mas é evidente que isto dito hoje, pelo menos nos países democráticos, não tem paralelo com aqueles outros tempos...
Em todos os tempos existiram e existirão pessoas de coragem. Veladas na discrição da vida ou expostas pelo "status quo", simples ou complexas, pobres ou faustas. A justiça veste múltiplas indumentárias, mas desnudada profere decisões librianas, lembrando que ainda existe verdade no mundo. A excelência da figura ímpar do P. António Vieira é a mensagem, a voz de coragem, a intemporalidade manifesta pelo seu espírito de igualdade e dignidade, o exemplo. E porque enquadrado num espírito religioso, entendeu que não existe "um" bem nem existe "um" mal. Apesar da visão "leibniziana" de que este é o melhor dos mundos possíveis, podemos construir sobre os insucessos, os desalentos ou as tragédias um mundo melhor. A beleza do amor será certamente a mais sólida fundamentação.
Parece que os Portugueses (de hoje) estão bem longe de navegação espiritual. No entanto, temos os portugueses dos séculos XIII e XIV inscritos nas viagens para os Arquétipos do Amor.
Ilhas de um Imperador em estado de Criança. Camões, Vieira, Pessoa e Agostinho são Mestres das rotas deste intemporal que subsiste em nós.
Eleitos somos pelo paradoxo e pelo imprevisível. Se calhar, no conjunto encerramos um koan do Zen Budismo. Há bem pouco tempo apercebi-me de que o riso, o trovão, a música, a luz do sol e a meditação que faço me desvelam memórias e identidades... Descobri por exemplo na voz de Ana Moura, no Sevdalim da Turquia e no lindo povo do Curdistão algo de imenso que brilha.
É na rota deste brilho que (estão) islâmicos, cristãos, budistas e em especial os judeus de israel, que gostaria imensamente tivéssemos tempos e fórmulas para sulcar. Depois de tão perto e tão longe -, A LUZ INTERIOR SERÁ A NOSSA MAIS PROFUNDA IDENTIDADE?
Não vale a pena o cansaço.
2.
«O que é o “Mito do Quinto Império”?» Estou em crer que não se trata de nada relacionado com o imperialismo... não será decerto, nenhuma sequência de impérios (tipo, houve o 1º... depois o 2º...etc...até que se chegou ao 5º).
Decerto será algo mais, digamos, transcendental. Algo do foro da evolução de cada um, algo até muito simples, como uma espécie de comunhão com a Natureza, os seus elementos, ou pelo menos o reconhecimento e aceitação de que fazemos parte desse todo.
O Mito do Quinto Império foi uma ideia desenvolvida pelo Padre António Vieira que o dava como um desígnio de Portugal e dos Portugueses que muito resumidamente resumi-lo-ei como um Império de Amor e de Serviço.
Porém, continuo a acreditar que o chamado 5º Império é algo mais profundo.
Também estou convencido que é algo muito mais antigo que a época de António Vieira.
Acho que ele apenas "lembrou" determinadas verdades, aplicando-as a Portugal (e aos portugueses), sendo aquelas, intemporais, e aplicadas a toda a Humanidade. O chamado 5º Império, é apenas uma maneira de (re)velar outros conhecimentos.
«...Algo mais antigo que a época do Vieira? Quanto? Que outras verdades? Que outros conhecimentos?»
Bem... tendo em conta que nos estamos a referir a António Vieira, um padre, relembro que na mandala cristã, os quatro animais do Apocalipse estão simbolizados pelo Leão, pela Águia, pelo Touro, e por um Homem com um livro. No centro dessa representação, está um cordeiro, o Agnus Dei. Passando para outro "patamar" poder-se-á relacionar estes animais com as quatro virtudes ditas por Zoroastro (ou Zarathrusta ...como preferirem). Assim, o Homem com o livro seria o Saber (o intelecto humano), o Leão com o Poder, a Águia com o Ousar, e o Touro com o Calar (força concentrada do touro; Estes quatro passos, seriam os necessários para a realização da Opus - O Agnus.
Porém, o número cinco, é um algarismo muito particular na tradição mítica portuguesa...talvez seja coincidência, ou sincronia (segundo Jung), que os escudetes do nosso brasão sejam cinco. Este cinco - o quinto elemento - poderá ser a consciência da alma imortal, o Ego imortal, a mente espiritual, sendo que os outros quatro, o quaternário da personalidade: o corpo físico, o corpo energético, o psíquico, e a mente concreta.
Poderá assim tomar algum sentido a afirmação de Fernando Pessoa «No Quinto Império haverá a reunião das duas forças separadas há muito, mas há muito aproximando-se: o lado esquerdo da sabedoria - ou seja a ciência, o raciocínio, a especulação intelectual; e o seu lado direito - ou seja o conhecimento oculto, a intuição, a especulação mística e cabalística.»
Relembro também o significado que possuem as cruzes, a sua relação com o cosmos, ou pura e simplesmente cada um dos seus braços (apontando para os 4 pontos cardeais), mas harmonizando os quatro elementos da Natureza...sendo o quinto elemento, o motor imóvel, a raiz do movimento...
Talvez não tenha sido por acaso que os Templários escolheram aquela cruz como símbolo. O interessante é que para fazer aquela cruz, geometricamente dum modo correcto, são necessários 5 círculos em interligação, sendo que o círculo central é raramente percepcionado, mas ele está lá!Teriam alguma razão Platão e Pitágoras ao vedarem acesso às Academias, quem não entendesse de Geometria.
Talvez o Padre António Vieira apenas estivesse a "preparar" as mentes para que as pessoas de então se consciencializassem do Novo mundo que os "descobrimentos" estavam a abrir.
Enfim, qual é a verdade, e o que é a verdade.... Puras especulações, embora sejam excelentes exercícios de intelecto o que fazemos na vã tentativa de a alcançar (a verdade).
TUDO VALE A PENA, SE A ALMA NÂO É PEQUENA.
Texto colectivo que se elaborou tendo como centro da reflexão o Padre António Vieira, dinamizado pelo Movimento das Forças Interrogativas, no blogue Estórias de Alhos, Uma Confraria da Liberdade (http://estoriasdeoutrosvelhos.blogspot.com ), decorria o mês de Outubro de 2007 (e agora proposto para publicação no segundo número da Revista "Nova ÁGUIA").
(postagem de Luis Santos)
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