domingo, 29 de abril de 2007

ESTÓRIAS DE ALHOS VEDROS

Este Bolg é um espaço literário!
Espaço (e tempo) dedicado às "Estórias de Gaveta", que por via digital poderão ascender à categoria (digo, dignidade) de estórias reais, contadas na primeira pessoa.Mande-nos a sua estória, indique um pseudónimo, ou não, e nós publicamos.
Aceitamos as Vossas Estórias, que podem ser enviadas para:
Autores/ Coordenadores:
- Luís Santos
- Luís Mourinha
- Luís Gomes
- Joaquim Nobre

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Alhos Vedros: Uma Vila com História


E se Alhos Vedros fosse toda assim vestida? Podia-se até meter também alguns poemas junto das árvores. E porque não umas pinturas ou esculturas? Descartáveis? Pode ser. É verdade que se tem limites, dada a grande ocupação do subsolo. Também é verdade que os custos com o pessoal da limpeza iriam subir. Mas, o grande problema, é que entraríamos em concorrência aberta com o Jardim do Alberto João e, isso sim, já era uma grande chatice. E depois o que faríamos com tanto turista? Dávamos-lhes história não?...
Luis Santos

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Intimidades


UMA AULA DIFERENTE

-Bem meninos, pelo sumário já compreenderam qu vão ter uma aula diferente daquilo que é habitual. É do vosso conhecimento que amanhã passará o vigésimo quarto aniversário sobre o dia vinte e cinco de Abril de mil novecentos setenta e quatro e o grupo de História decidiu organizar uma exposição de fotografias tiradas nessa ocasião. Em princípio poderiam visitar a exposição com o vosso Professor de História na aula que terão após o almoço. Provavelmente, o meu colega seria a pessoa mais indicada para lhes dar todas as explicações necessárias a respeito daqueles acontecimentos e para lhes fazer o enquadramento do era o nosso país nesse passado, para os mais velhos ainda tão recente mas, para vós, simultaneamente, muito distante. Neste sentido, talvez ficassem melhor esclarecidos pelo trabalho que eventualmente poderiam desenvolver nessa outra disciplina. Eu não ponho isso em dúvida e não quero estar aqui a pretender que, de qualquer forma, possa substituir o meu colega ao nível de que falei. No entanto, quer se concorde ou não com isso, está no espírito das leis que regulamentam o actual sistema de ensino em que vocês estão inseridos, que os professores, para além do tradicional papel de ensinarem determinadas matérias, devem contribuir para a educação dos alunos enquanto pessoas. Eu acho isso muito discutível, sou mesmo da opinião que é na família a que pertence que cada um de nós deve receber os princípios que nos devem conduzir as atitudes e comportamentos bem como a formação dos nossos caracteres. A nós, professores, competirá não atentar contra isso e nada mais. Já ao nível da educação cívica, isto é, da educação para uma vida em comunidade que parta do respeito pelo outro, já a esse nível me parece que é nosso dever ir um pouco mais longe e, pelo nosso comportamento, podermos servir de modelo para uma educação cívica exemplar. Pelo menos neste aspecto, também eu concordo que os professores têm alguma responsabilidade ao nível da educação dos alunos; responsabilidade pelo exemplo de bom senso, mas igualmente pela tolerância e respeito pelas opiniões alheias. É certo que nem sempre isso acontece na realidade, mas justamente por isso eu ponho em causa o papel dos professores enquanto educadores. Mas adiante. Seja como for, é por causa dessa interpretação que actualmente se faz dos nossos deveres que eu, na qualidade de vosso director de turma me proponho a acompanhar-vos n visita a esta exposição sobre o que se passou em Lisboa no dia vinte e cinco de Abril de há vinte e quatro anos.

E é importante que vocês ganhem consciência daquilo que sucedeu para que possais perceber a diferença fundamental que há entre vós e os vossos pais. É que eles cresceram num país em que aos homens não era deixado espaço para poderem atingir uma dignidade total. Com efeito, no regime político que então vigorava estava interdito ao comum dos mortais manifestarem as suas ideias e opiniões sobre a vida social e política do país. Não era que não existissem pessoas que falavam desses assuntos. É claro que existiam, até pelo simples facto de haver imprensa e órgãos de comunicação audio-visual. Acontece é que a discordância ou seja, aqueles que manifestassem pontos de vista contrários àquilo que estava estabelecido, isso estava sujeito à repressão e ao silêncio. A oposição política, então, essa estava condenada à prisão e casos houve em que os protagonistas foram pura e simplesmente assassinados, como aconteceu com o senhor general Humberto Delgado que foi candidato à presidência da república há mais de quarenta anos. Ora acontece que isso era assim porque os homens do poder partiam do pressuposto que só a uns quantos era reconhecida a capacidade para decidirem o que era melhor e pior para a sociedade portuguesa, entre eles cabendo a um predestinado o papel de chefe supremo que melhor que todos os outros saberia interpretar aquilo que seriam os sentimentos e conveniências do povo. Pois isso é a tirania e em última instância ela acaba sempre por proteger os poderosos e, ao contrário, por deixar os mais fracos à mercê da vontade e dos caprichos daqueles. Nessa dimensão, meus meninos, há sempre a possibilidade de alguém ver a sua dignidade rebaixada sem que se possa defender. Daí que a tirania seja incompatível com a dignidade humana. Imaginem o que sentiriam os vossos pais e avós quando eram desapossados do seu ganha pão e reduzidos à miséria pelos salários que recebiam, sabendo que os protestos visando alterar essa situação eram pagos com bastonadas e noites na cadeia.

A mim ensinaram-me que todos os homens são filhos de Deus e por isso mesmo igualmente detentores de uma dignidade incomensurável e inalienável, a qual, a não ser o próprio por via das suas más acções, ninguém pode diminuir ou espezinhar sob pena de atentar contra a própria divindade. Mas também podemos dizer que a vida humana é um bem insubstituível e que todos os homens, à partida, por serem membros da mesma espécie, têm um certo número de direitos igual para todos. Em qualquer destas interpretações se reconhece a dignidade dos homens e assim poderemos justificar a rejeição da tirania.

E foi contra a tirania que lutaram os homens que ides ver. Pela vossa parte, podeis dizer que eles desenvolveram as condições que hoje em dia nos permitem aspirar a uma vida digna. São homens que merecem todo o nosso respeito e admiração e, na maior parte dos casos, nada quiseram para si. Perante esses, meninos, que arriscaram as suas vidas e seguranças pessoais e dos seus, perante esses nos devemos ajoelhar em sinal de gratidão e admiração. Quer se tenha ou não gostado daquilo que se passou a seguir àquele dia, quer se concorde ou não com isso, uma coisa devemos aceitar, é que aqueles homens, soldados anónimos e um capitão que preferiu a pacatez do anonimato, esses foram os heróis que nos devolveram a liberdade que é a única maneira de vivermos que é compatível com a dignidade humana. A esses, o nosso carinho e reconhecimento, deve fazer-nos tirar-lhes o chapéu em sinal de máximo respeito.
Era isto que lhes queria dizer antes de sairmos para vermos as imagens que, espero eu, possam despertar a vossa curiosidade. Vamos lá.

Portel, 24de Abril de 1998

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Yayô - 25 de ABRIL, SEMPRE!

Dizer que a São Domingos não é bem a sua favorita... "eh, mas também não importa...", diz ele, de si para si. O Cravo ao peito e a liberdade de ser são marcas que o distinguem. Viva o Yayô, o único nome na Língua Portuguesa que se escrve com dois ypsilon.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

O POVO UNIDO QUE ACABOU POR SER VENCIDO

DAQUI FALA O MOVIMENTO DAS FORÇAS INTERROGATIVAS (M.F.I.)

"O Povo Unido Jamais Será vencido"
Recordo esta frase, como se fosse hoje. Era uma máxima popular do pós-vinte e cinco de abril de 74 e através dela se reuniam forças e convicções. Nesse dia não tive aulas. A Escola de Alhos Vedros fechou portas e as pessoas estavam todas na rua. Confesso que foi um dia estranho, que só assimilei mais tarde, dentro daquilo que era possível nos meus onze anos de idade. As festas de 1 de Maio, Dia do Trabalhador, abriram-me algumas portas da minha lucidez ainda muito afectada. Não poderia ser mau: dias sem aulas, festas nas ruas, pessoas felizes, liberdade de expressão e o fim da Guerra Colonial. Nesse dia histórico fomos para Lisboa, ao som das buzinas do Ami 8. No Parque Eduardo VII bandeiras e multidões gritavam em unissono: "O Povo Unido, jamais será vencido". "Fascismo nunca mais". Era insólito, estranho, novo... mas era real. Gritei, porque todos gritavam e nesses prantos de alegria percebi que se tratava do inicio de uma nova Era. Era o primeiro dia do resto das nossas vidas jovens e promissoras.Outros tempos, tempos idos, convições passadas, ideologias vencidas.Na verdade, hoje em dia as convicções são outras e as energias/ forças estão concentradas/ apontadas noutros sentidos.O que é verdade é que o povo foi vencido e a democracia já não se compadece com etimologias ou convicções passadas. O governo já não é do povo e já nem se sabe o que é o povo. Aliás, ninguém é povo. Todos se consideram acima do povo ou pelo menos à margem desse antigo cliché.O que é verdade é que já não reconhecemos a democracia que descobrimos em Abril, nem se sabe ao certo onde se "situa", se bem que todos afirmamos viver num sistema democrático. Se é verdade que a democracia actual venceu o povo de Abril, também é verdade que é preciso repensar o que é isso de democracia no Portugal do Século XXI. O que é que a UE e a globalização fizeram aos ideais do Vinte Cinco de abril? Onde está o povo que jamais seria vencido? Quem tramou (e calou o povo que jamais seria vencido?
(Daqui fala o Movimento das Forças Interrogativas (MFI), com uma série de perguntas e perplexides.)

Luís Mourinha

Dia da Liberdade



Nesse dia algo de novo aconteceu…
As pessoas reuniram-se junto á rádio eufóricas e assimilavam cada palavra numa mistura de surpresa e entusiasmo.
Não compreendi o que se estava a passar, mas dava a sensação que este dia iria revelar-se muito especial.

As pessoas juntavam-se cada vez mais na rua, mas as conversas eram confusas e não revelavam minimamente o sucedido. Apanhava palavras soltas, como liberdade, fim do fascismo, revolução, Lisboa, a tropa, mas afinal o que queria dizer tudo isso?
Os dias anteriores tinham sido normais como sempre, nunca tinha ouvido nada de estranho, indícios que levassem a prever esta situação.
Os gritos continuavam, o receio de alguns passou a ser de alegria entusiasmante e a exaltação era contagiante.

Então um grupo entre a multidão começou a erguer uma barreira na estrada principal do bairro, como se alguém lhes tivesse dado ordens para o efeito. A multidão em alvoroço, posicionou-se ao longo da estrada em expectativa do que poderia vir-se a passar.
Os veículos passaram a ter que parar no local e todos eram revistados ao pormenor.
Mas o que procurariam eles? Tudo isto era uma surpresa para mim…

No fim da rua observei que alguém tinha colocado uma tábua com pregos ao contrário no meio da estrada para evitar que os condutores pudessem escapar do local.
Passado algum tempo a coisa funcionou, um condutor abrandou antes do agrupamento da revista, esquivou-se por um dos lados ultrapassando as pessoas e seguiu em frente até ao fim da rua onde estava a tábua, passou por cima rebentando os pneus, mas mesmo assim desapareceu de vista, parecendo ter algo a esconder.
O dia passou-se nisto e ninguém se preocupava em explicar aos mais jovens no local o que realmente estava a acontecer. Para uma criança de 10 anos tudo isto era incompreensível. Continuavam a manifestar palavras de ordem, como fim do fascismo, revolução, liberdade, liberdade…
Nunca abandonei o local continuando a assistir ao espectáculo com alguns, poucos amigos, ali reunidos e a família. Era algo extraordinário de se ver, um acontecimento fora do normal a que não estávamos habituados…

Ao fim da tarde algo aconteceu de novo. Um novo grupo repentinamente reuniu-se aos gritos e iniciou marcha apressada para a rua ao lado proferindo palavras de ordem, como; “vamos apanhar o fascista, o gajo da Pide”.
Eu instintivamente segui atrás deles para ver o que mais poderia vir a acontecer…
Então vi um individuo a ser arrastado de casa á força, agredido violentamente e obrigado a caminhar em frente da multidão, continuando a ser esmurrado e pontapeado ao longo da “procissão”, que o ia exibido nas ruas do bairro como um prisioneiro de guerra.
Era emocionante assistir a tudo isto, mas confesso ter ficado com pena do homem, que conhecia de vista, não compreendendo o motivo desta acção violenta que nunca na vida tinha presenciado….
Acabei por separar-me da multidão, voltando para casa, ficando sem saber do destino de tal individuo.

Pouco a pouco fui assimilando o sucedido e com os dias, fui compreendendo todos aqueles estranhos acontecimentos.
Para isso foi importante a posterior explicação de meu pai, que até ao momento nunca tinha comentado esses factos da sua vida particular e dos Portugueses em geral, das notícias seguintes nos meios de informação ou comentários entre as pessoas, que agora falavam á vontade e diziam coisas impensáveis ás dias atrás.
Tudo ficou mais claro para mim, a situação politica do país anterior e posterior ao 25 de Abril, o motivo da revolução, os cravos, as canções, os discursos, etc.
O quotidiano pareceu alterar-se um pouco depois de tudo isto, as pessoas mais velhas falavam agora livremente, o entusiasmo era geral e o desejo de dias melhores parecia ser a grande esperança de todos.

Compreendi que afinal, tinha tido o privilégio de assistir ao primeiro dia da Liberdade em Portugal com mudanças profundas na vida de todos nós!

Mas parece que tudo isso foi insuficiente para conseguir um Portugal melhor, hoje além da liberdade (cada vez mais condicionada), o país continua a precisar de outra revolução; a da “Mentalidade”!!!


Joaquim Nobre
© JJCN

domingo, 22 de abril de 2007

BLOG: ESTÓRIAS DE ALHOS VEDROS


Este Bolg é um espaço literário.
Espaço (e tempo) dedicado às "Estórias de Gaveta", que por via digital poderão ascender à categoria (digo, dignidade) de estórias reais, contadas na primeira pessoa.
Mande-nos a sua estória, indique um pseudónimo, ou não, e nós publicamos.
Aceitamos as Vossas Estórias, que podem ser enviadas para:
-
vedros.alhos@gmail.com
Autores/ Coordenadores:
- Luís Santos
- Luís Mourinha
- Luís Gomes

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Intimidades

O PEDIDO DE NAMORO

Não tenho dúvidas que a infância nos marca de forma indelével. Para o bem e para o mal, são situações que vivemos nessa idade mítica, o facto de termos sido felizes ou não, é isso que, muitas vezes, vem a determinar aquilo que vimos a ser e a conseguir em adultos, o nosso ânimo e forças e ainda a pertinácia ou a ausência dela, para atingirmos aquilo que queremos na e da vida. Não sou psicólogo nem, de qualquer forma, perito na matéria, mas penso assim por intuição e, na verdade, é ao longo desses anos que começamos a lapidar os tijolos mais fundos do nosso carácter. Quantos não são os casos em que as primeiras impressões recolhidas nesses dias nos impõem a massa com que cimentamos pontos de vista futuros?
Pois eu, do paizinho, guardo da meninice a recordação de uma imagem dúbia. Lembro-me bem do pai jovial e inundado de sentido de humor nas respostas que dava ao quotidiano, o pai que gostava de conversar com os filhos e de lhes ouvir as opiniões e de os ver afirmarem atitudes, nesse sentido, o pai liberal que nos acompanhava numa caminhada e nos deixava caminhar sozinhos e que eu, nas minhas fantasias de miúdo, gostava de vestir com a despreocupação rebelde dos períodos balneares. Mas também recordo o rosto bem demarcado pelas gelhas de alguém capaz de viver com pouco, muito pouco, e jamais olvidaria as expressões do homem autoritário, aquele que nunca abdicava da prerrogativa da última palavra e que agia como um guardião de algumas regras cujo incumprimento nos fazia correr o risco de punição que só por razões de justiça não era posta em prática. Esse era o pai dos fatos completos, co colete e da gravata que, aqui e ali, esperava por nós para nos julgar.
“-Sentença de Salomão…” –Dizia ele, com uma teatralidade que tinha tanto de sério como de boa disposição, para com isso destacar a importância das palavras e, simultaneamente, desdramatizar-lhes as consequências. E proferia a decisão e a opinião que podiam ou não trazer o castigo.
Era o pai que nos repreendia a indelicadeza, embora se limitasse a discutir as ideias connosco. Aquele que nos proibia a preguiça mas que nos deixava brincar. E ainda aquele que nos impunha horários e rituais a respeito dos quais desprezava por completo as nossas vontades.
Associada a isso está também a recordação que dele tenho como homem de palavra, quer na dimensão daquele que fala verdade e cumpre com o que diz, quer na pessoa que faz um uso predominante dessa ferramenta na sua relação com os outros. Quando me remeto para a infância, um quadro que reponho é o do paizinho, à mesa, comunicando-nos a sua leitura de certos acontecimentos, com aquele ar de quem fala de descobertas científicas, ou então vejo-o sentado, dada a regularidade do facto, melhor seria recostado, no seu cadeirão pessoal, espécie de mesa de colóquio da sala de estar, onde a família partilhava uma boa parte dos momentos de lazer.
A verdade é que havia a obrigação de todos estarmos em casa por volta das sete da tarde, apesar do jantar se realizar apenas uma hora depois. Era a ocasião que o paizinho aproveitava para indagar sobre o dia escolar e civil dos filhos e no que restava desse noticiário, imprescindivelmente diário, era também o tempo apropriado para ele nos dar lições em torno dos mais variados problemas, com isso, em parte, esperando fazer de nós indivíduos responsáveis e sérios. Às vezes, afundava-se no cadeirão e, como se estivesse de olhos fechados, discursava até que a mãe, ora aproveitando uma pausa, ora recordando o adiantado da hora, nos fazia sentir a necessidade de nos sentarmos para a refeição.
O paizinho era, para mim, esse misto de amigo e juiz, essa ambivalência entre o professor e o polícia.
Hei-de guardar para sempre o episódio da concessão da autorização para o namoro da minha irmã mais velha e estou certo que ele bem ilustra tudo quanto escrevi anteriormente.
Depois de ver bem sucedida a sondagem prévia junto da mãe, teve ela a agradável surpresa de ouvir o pai convidar o rapaz para jantar, no imediato à intenção de com ele falarem, tendo em vista o seu beneplácito à união que ali pretendiam iniciar.
E aquele que viria a ser meu cunhado lá apareceu, numa noite de Sábado, primeiro para jantar com a família e depois para se deslocar ao escritório, onde deveria ter a entrevista do consentimento.
É claro que não seria isso um motivo para alterações nos hábitos familiares, antes pelo contrário e, como seria de esperar, também o convidado ficou sujeito à pontualidade das sete e a presenciar a ronda biográfica. No entanto ele era jovem e encarou isso com espírito desportivo e disposição de pescador. Mas o que ele não contava é que o paizinho tivesse outros planos.
Acabou ele por aproveitar aquele momento para expor aquilo que achava deverem ser os papéis dos homens e das mulheres no até e pós casamento, no que deve ter elaborado uma palestra toda ela feita de minúcias analíticas e exemplificativas.
Bem, nós estranhamos que, naquela tarde, o interrogatório tivesse sido tão rápido. Mas quando passada mais de uma hora a mãe nos fez um sinal discreto para que nos dirigíssemos para a mesa, já então tínhamos compreendido que, afinal, a vontade inicial era proporcionar ao candidato uma daquelas aulas de preparação para a vida autónoma.
É claro que apenas a visita ficou na sala, mãos sobre as pernas, escutando atentamente a prédica de quem, olhos postos no tecto, nem dera conta da debandada geral.
Eu não sei o que sentiu quando o paizinho deu por finda a oratória, mas tenho a certeza que o espanto lhe deve ter obliterado o alívio quando, por entre o aperto de mão, lhe ouviu a exclamação final:
“-É pá!” –Começou o meu pai circunspectando com olhos franzidos.”-Não me diga que você foi o único que ficou a ouvir-me…” –E o pretendente deve ter engolido em seco com a brevidade de uma pausa. “-Você veio cá para pedir a mão da minha filha?” –Perguntou-lhe enquanto se erguia. E não esperou pela resposta. “-Pois fique sabendo que tem a minha permissão.” –E estendeu-lhe de imediato a mão direita.

Portel, 20 de Abril de 1998

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Alhos Vedros: Uma Vila com História


O saudoso velho animatógrafo como lhe chama carinhosamente o amigo Luis Gomes. É claro que se formos deixando delapidar todo o nosso património, qualquer dia será somente uma vila com história oculta.
Luis Santos

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Vinho MFI


Com as inscrições para a aquisição da t-shirt ainda abertas chegou a vez do vinho. Depois desta bela colheita de 2006, da casta periquita, pomada de espírito raro, a cuja produção um nosso amigo se dedica, estamos a estudar a possibilidade de produção, já este ano, do Vinho MFI (Movimento das Forças Interrogativas). Um vinho estremenho, de solo palmelense, humidificado com as águas do Atlântico, clima mediterrâneo, com uva pisada, quiçá, como se faz no Douro, com pés ucranianos, dando-lhe uma espiritualidade própria, de mistura oriental, capaz de conquista dos melhores prémios em certames internacionais como tem vindo a acontecer com os vinhos da região. De lamentar unicamente o facto de ainda não termos ao serviço uma enóloga galega, o que, sem dúvida, lhe melhoraria em muito a multiculturalidade. As encomendas devem ser feitas aqui.

Intimidades

O ANIMATÓGRAFO

A terreola usufruiu de uma sala de cinema aproximadamente durante meio século e quando ela encerrou, por ordem da Direcção-Geral dos Espectáculos, no princípio da década de oitenta, dadas as condições de segurança do edifício porem em risco a integridade física dos eventuais utentes, já que o piso do balcão ameaçava abater a qualquer momento, só um bom par de anos mais tarde dei pela sua falta, concretamente, a partir da altura em que me começou a pesar, no tempo e nas energias, o facto de me ver forçado a recorrer aos écrans de vilas vizinhas para me divertir com certas películas que, em minha opinião, não requeriam nem mereciam uma ida propositada à capital. À medida que o pó e a sujidade foram dando sinais nas vitrinas e na fachada, em geral, fui dando conta que, afinal, até tinham sido muitas as terças-feiras com serões preenchidos com filmes de segunda e terceira linha, é certo, mas que nem por isso deixavam de proporcionar distracção e, em muitos casos, com o acréscimo de provocarem conversa. Tal como eram variadíssimos os grandes êxitos de bilheteira que ali houvera visto, aos fins-de-semana, sempre com a casa a deixar gente de fora. Fosse o que fosse, aquele cine-teatro era uma opção que se calou e agora parece-me que então compreendia que, para tanto, mais não necessitava que andar uma vintena de passos.

Porque chegaram os interiores àquele estado? Ele é verdade que nos últimos anos, especialmente às terças e quintas-feiras, as cadeiras estavam às moscas, a não ser num ou noutro caso de exemplares de um género em voga, eram vulgares as noites em que nem duas mãos cheias de pessoas se espalhavam na sala. Isto para nem lembrar aquelas consequências da nouvelle vague em que, pelo menos uma vez, eu e um outro amigo fomos os únicos presentes, a ponto de ele fumar no decurso da projecção sem ser detectado. Em contrapartida, os Sábados e Domingos, incluindo as matinés, esses continuavam cheios. Havia povo para isso. E nesse aspecto, se algum problema se colocava ele prendia-se mais com as escolhas apresentadas ao público do que a este propriamente dito. Aliás, tenho para mim que a actividade cinéfila, em si, era lucrativa. Mesmo descontando a selvajaria responsável pelos cortes e rombos nos estofos do balcão, em primeiro piso, no cômputo final o saldo era, certamente, positivo e, devo dizer, economicamente interessante.

A casa desabou devido a outros motivos, exteriores a ela. Foram as gestões ruinosas da Cooperativa Operária de Consumo que daquela era proprietária, a sucessão de anos ao sabor do vento foram os responsáveis pela incapacidade de manutenção verificada e, mais tarde, pela quase falência daquela associação, sonho de alguns operários dos tempos finais da primeira república. Foi por isso que não houve dinheiro para arranjar as instalações e ninguém se mostrou interessado em evitar o descalabro total. Mas sobre as razões de tais desnortes não me proponho falar aqui que essas acabam por ser motivos para outras guerras.

Para já, limito-me a acrescentar que o salão de cinema foi o capricho da última colectividade de cultura e recreio que se fundou no burgo a partir de uma cisão da banda da mais anosa daquelas associações. Por algum tempo foi objecto de exploração privada, pelo Júlio do café que o trouxe de arrendado. Por fim, a Academia vendeu-o à Cooperativa e assim ficou até à hora da morte.

Ao longo do tempo houve um público cinéfilo. Um dos meus tios paternos, por exemplo, teve por muitos e bons anos um lugar reservado numa das últimas filas do balcão. Mas também se formaram homens que gostavam de se dar ares da rebeldia de um Humphrie Bogart ou do semblante melancólico e apaixonado de um Richard Burton. O cinema era um local público onde os homens eram vistos com as suas mulheres. E eram muitos os que tratavam por tu os heróis da tela e sabiam de cor as películas em que entrara o Lex Barker ou o Gari Cooper. Várias foram as gerações que despontaram para a matiné de Domingo que era o dia da indumentária cuidada e até àqueles que têm a minha idade, muitos foram os que em comum cresceram com os moços que, nos intervalos, percorriam os corredores e os lugares com um tabuleiro ao peito, onde traziam os doces e os salgados, cujos papéis e cascas se estatelavam no soalho à laia de despojos da sessão. E se quiser ser justo, ali não vi apenas as diatribes dos bons e dos vilões dos western spagueti que até tiveram os seus heróis, como o Giulliano Gema que, fazendo de Django, foi salvo por uma moeda de um dólar, e nem me estou a referir a espectáculos de ilusionismo e de música que ali tiveram lugar. O Sérgio Godinho ali iniciou a sua torne sete anos de canções. Estou antes a rever a manifestação que o Tonho Testa e o Estreia barbeiro queriam fazer junto das bilheteiras para poderem assistir de pé a um filme considerado erótico, se não estou em erro, “A Piscina”. Ou as gargalhadas provocadas por algum aparte jocoso que, no escuro, por vezes se fazia ouvir a propósito de alguma cena.

Com efeito, para a rapaziada da minha convivência o cinema era um ponto de diversão e de encontro e se na meninice os costumes e os zeladores tudo faziam para que fossemos contidos e discretos nas brincadeiras que por lá praticávamos, ao longo da adolescência as rédeas quebraram-se abrupta e inesperadamente e fora das jaulas podemos dar largas a pinotes que em outras circunstâncias não teríamos feito. Coisas de rapazes, diziam então os mais velhos. Houve uma fase de entradas propositadamente tardias, para descermos as escadas da entrada com saltos em piso de madeira e também houve a moda de mastigar rebuçados de modo a que o barulho perturbasse alguns momentos de maior emoção e suspense.

Foi daí que derivou o prato predilecto das soirés de Sábado.
Como éramos muitos, entre rapazes e raparigas, conseguíamos quase preencher um dos lados da fila A do balcão, a primeira de todas que, pela separação de um muro baixo, se debruçava sobre a plateia, no piso inferior. Às páginas tantas alguém teve a ideia dos ovnis e é claro que a coisa pegou logo. A brincadeira consistia em colocar um colocar um rebuçado no parapeito de madeira que apelidávamos de pista de aterragem e com a força de quem dispara um bugalho, escolhido o momento apropriado que era aquele em que as pessoas estivessem mais concentradas naquilo que estavam a seguir, algum de nós dizia fogo e, em acto contínuo, voavam os projécteis na direcção de algum coro cabeludo que logo se virava para trás.

Era uma risada.

Alhos Vedros
2 de Março de 1996

segunda-feira, 16 de abril de 2007

T-Shirt do MFI



FAÇA JÁ A SUA ENCOMENDA.

domingo, 15 de abril de 2007

Movimento das Forças Interrogativas (MFI)


MOVIMENTO DAS FORÇAS INTERROGATIVAS
MANIFESTO A HAVER

1- Preâmbulo
O Movimento das Forças Interrogativas é Fixe.
Dois dos princípios do Manifesto a haver do FMI:
1-O MFI poderá muito bem representar todos aqueles que não se revêm na partidocracia actual.
2- O MFI também não se revê no Partido do Salazar, nem de quem o apoiar e em outras formas totalitárias de perspectivar o Mundo Social.Por um país que se questione!

Por um país que não aceita dogmas, que aceita o contraditório e defende o direito à palavra em forma de pergunta.
A pergunta é o motor da História, a porta aberta para a liberdade.
Quem pergunta deseja saber!
Quem pergunta é livre.

2- Cabeça
O MFI é uma excelente ideia que pertencerá a quem a agarrar. Não tem estatutos, não tem direcção, mas tem um Manifesto a haver. É naturalmente também pertença de todos os participantes no “Largo da Graça Blog” que assim o desejem. Tudo o mais é pura brincadeira, e da melhor.

Quanto muito é uma brincadeira séria, como tudo na vida que vale a pena: surge de uma ideia, de uma interrogação filosófica necessária e permanente.
É um Movimento (re)surgido da necessidade de questionar o Statu Quo, que nos preocupa. Não tem dono, é de todos nós.
Não tem Estatutos (ainda!), mas vai ter em breve. Não teve um nascimento "de papel" ou institucional, mas "deu-se à luz" num parto virtual, aqui mesmo no Blog "Estórias de Alhos Vedros".

3- Posta
A INTERROGAÇÃO é uma arma, contra o dogmatismo, contra a tirania e a favor da verdade, a favor da democracia e da Liberdade.
É pelo sonho que caminhamos, diria o Poeta. É pela interrogação que construímos a cidadania.
A pergunta ajuda a pensar!A pergunta incomoda os dogmáticos, desorienta os tiranos.
A pergunta certa é meio caminho para a verdade. É o Código postal da Democracia.

4- Rabo
Só falta dar asas ao M.FI., como espaço de reflexão sobre as "coisas" públicas, que nos preocupam e que urge questionar. Sem partidos políticos, ideologias fixas ou outro tipo de amarras, o Movimento já é uma realidade. Por isso perguntamos: acham que devemos caminhar em frente com esta ideia?

Para já já o que nos faz falta é "animar a malta" e saber quantos somos. Quantos são os Interrogativos genuínos, que se querem juntar a nós e gritar bem alto as perguntas inquietantes.
E a primeira pergunta de todas pode ser já esta, aliás, estas: que merda é esta? O Povo não é parvo!? Porque somos usados em nome de uma Democracia meramente política? O que significa democracia? E a participação democrática, o que é e como se pratica? Cidadania? Ser cidadão, o que é? Há uns mais cidadãos que outros? Cidadania, direitos e deveres? Direitos ou privilégios?

5- Hino
"Graceland", poema e música de Paul Simon, será, provisoriamente, à falta de melhor, o hino do Movimento das Forças Interrogativas.

6- Novidades
Um companheiro nosso decidiu criar t-shirts do MFI. As encomendas devem ser feitas directamente no blog http://estoriasdeoutrosvelhos.blogspot.com/ no lugar dos Comentários.
Claro que é uma excelente prenda para oferecer no dia 25 de Abril.


M.F.I SEMPRE!!!

MFI Sempre, Fascismo nunca mais!

"Qual Salazar, por aqui, o povo está com o MFI!"

O SALAZAR QUE SE LIXE, O MOVIMENTO DAS FORÇAS INTERROGATIVAS É QUE É FIXE!

Quem pergunta sempre alcança (esclarece)!
Interrogativos de todo o Mundo uni-vos!
Perguntar é o oposto de dogmatizar!
Quem pergunta está mais perto da Liberdade!

Pelo Movimento das Forças Interrogativas
Dialógico e Carlos Alves

sábado, 14 de abril de 2007

ALHOS VEDROS, CEUTA À VISTA!

Factos históricos:

- Em 1415 grassava a peste em Lisboa. Em consequência desta epidemia, a Rainha D. Filipa de Lencastre falece a 19 de julho. O Rei deixa a corte em Lisboa e refugia-se em Alhos Vedros numa quinta do seu filho bastardo D.Afonso, Conde de Barcelos. Aqui em Alhos Vedros, segundo o testemunho de Gomes Eanes de Azurara, na Crónica da Tomada de Ceuta, realizou-se a entrevista com os seus filhos sobre a expedição a Ceuta. Os Infantes deslocam-se de barco a Alhos Vedros, onde pedem permissão ao pai, para partirem à conquista de Ceuta, dando origem à gesta dos Descobrimentos Portugueses.

- Em 15 de Dezembro de 1514, D. Manuel I outorga Foral a Alhos Vedros. Os 500 anos do Foral comemoram-se em 2014, daqui a 8 anos.De norte a sul do país, e com o objectivo de divulgar a sua história e o seu património, em inúmeras freguesias e concelhos têm surgido eventos, Feiras medievais, desfiles, recriações, onde, revivendo ou recriando o passado se aposta na cultura, no futuro e no desenvolvimento.Porque não fazer o mesmo em Alhos Vedros?Em Alhos Vedros já se conjugam diversos factores que é dificil encontrar.

- Existe um património histórico rico, que urge divulgar.

- Existe experiência de organização de eventos, com a participação de muitas pessoas (por exemplo, o Carnaval).- Existem alguns meios disponíveis nesta área (pesquisa documental, guarda-roupa, materiais cenográficos, etc).

- Existem Colectividades, Associações, Escolas que conseguem trabalhar em conjunto.

Porque não conjugar todas as vontades e lançar um evento, tipo Feira Medieval, com animações, desfile a cavalo, torneios, ateliers artísticos, etc, com a participação de crianças e jovens, e que fosse crescendo ao longo destes anos e que culminasse nas Comemorações dos 500 anos do Foral de Alhos Vedros, em 2014?
A ideia tem vindo a germinar, desde meados de 2005, e foi reforçada em Março de 2006, data em que o grupo “Amigos da História Local”, realizou um Colóquio sobre este tema.
A partir daí, apareceu um site http://alhosvedros-medieval.blogspot.com/, que tem vindo a desenvolver a ideia. O projecto foi apresentado à SFRUA, à Igreja, aos Escuteiros, a outras Associações, à Escola Zeca Afonso. Todos reconheceram a importância e o valor do projecto e todos mostraram vontade de lançar mãos à obra.A ideia foi apresentada à Junta de Freguesia de Alhos Vedros e à Câmara Municipal da Moita em Novembro de 2005. O projecto completo foi enviado em Julho de 2006.
Em reunião realizada em Novembro passado na SFRUA, em que o assunto esteve na ordem do dia e perante a questão concreta do envolvimento no projecto, a Junta não respondeu e da Câmara, através da Vereadora do Pelouro e do Chefe de Serviços respectivo, as palavras foram de desincentivo. Que em 2007 não havia condições, que não existia verba, inclusivé que não havia datas disponíveis...
Em 24 de Janeiro, na sessão pública descentralizada de Câmara, que se realizou no CRI, em Alhos Vedros, voltei a relançar o tema. O Sr. Presidente desvalorizou por completo o assunto.
Mais importante que o apoio em euros é a atitude de incentivo, e o carinho com que se devem receber iniciativas desta natureza em favor do desenvolvimento da nossa terra.
Que Autarquia é que, perante uma iniciativa desta natureza, actua deste modo?
Contudo, a Câmara neste ano começou a realizar espectáculos de música da época medieval-renascentista. Será que aproveitou a ideia? Ou, (podemos pensar), a ideia se fôr organizada pela Câmara já é boa?
Salvo raríssimas excepções, as boas ideias para eventos ou iniciativas que surgem no Movimento Associativo, ou de munícipes individuais, mais tarde ou mais cedo são apropriadas pela Câmara. Veja-se o recente e triste caso da Romaria, ou do eXporádico, este ano completamente copiado na Quinzena da Juventude.O contrário é que deveria acontecer ou seja, o poder camarário deveria dar visibilidade às pessoas que têm as ideias e apoiando, prestigiava todos, pela positiva. Com esta atitude a CMM em vez de unir, divide, em vez de ajudar a desenvolver, leva à retracção.
Mas enganam-se com a Feira Medieval. Em Alhos Vedros não desistimos facilmente!

Vitor Cabral
in, http://vcabral.blogspot.com/

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Alô, Alô, Sr. Reis Dias cadê o pénalti?

Tirem as Estórias pessoais da gaveta. Partilhem connosco o que já têm escrito ou que desejam escrever. Lançamos um desafio aos nossos leitores e colaboradores: mandem Estórias sobre / de Alhos Vedros. Mandem as Vossas Estórias, as Vossas recordações, as Vossas experiências. Ficamos à espera!
O nosso e-Mail para onde podem mandar as Vossas Estórias é o seguinte:vedros.alhos@gmail.com
Autores/ Coordenadores:
Luís Gomes
Luís Santos
Luís Mourinha

P.S.:
Caro Joaquim, gostámos muito da primeira e da segunda, aguardamos a terceira.
Olá João, criadas as expectativas, falta o remate final.
Caro Mourinha como vai o Movimento das Forças Interrogativas?

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Vala Real


Quando era miúdo a Vala Real situava-se já Pinhal do Castanho adentro e passar para o outro lado era uma aventura indescritível, porque imaginávamos cobras venenosas e outros animais selvagens que podiam de repente saltar por detrás dos arbustos, qual Adamastor, e causar danos físicos irreparáveis. Era lá que naquele tempo íamos à lenha e à vegetação mais seca, com que depois ateávamos as enormes fogueiras para festejar os santos populares. Éramos especialistas em saltar à fogueira. Espaçadamente lançávamos o rosmaninho no braseiro, ateando violentamente o lume e lá íamos nós pelo meio das labaredas concretizando mais um salto de belo efeito. Umas vezes a sólo, outras vezes aos pares. Ali passávamos o serão, ou então íamos de fogueira em fogueira à procura da melhor animação, do bailarico, do petisco e das doces cachopas que nos prendiam o coração. As fogueiras foram com o Pinhal, mas a Vala Real ainda existe. Bem, de vez em quando também temos santos populares. O que eu me lembrei hoje do São Pedro.
Luis Santos