Há poucos meses que se tinha mudado para Alhos Vedros, mas tanto quanto possível evitava aqueles encontros perturbadores. E ainda para mais, que ele parecia ser do tipo de homem, do qual ela sempre tinha fugido a sete pés. Às vezes até ficava com raiva de si mesma. Como era possível sentir interesse por ele? Tinha cara de “menino bem” e da palavra “dificuldades”, não lhe dizer nada. Ao contrário dela, que tudo o que tinha, lhe custou muito esforço e força de vontade inabalável, perante as adversidades.
Era ainda cedo, talvez 16 horas. Casualmente encontraram-se no estacionamento. Desta vez, não consegui evitar encontrá-lo, estou lixada! Pensou ela.
E lá estava outra vez aquele olhar intenso e devorador em cima de si. Tempos houve em que parecia que lhe queimava a pele, tal era a sua intensidade.
Apesar de ele não ser propriamente um George Cloney, tinha contudo uns olhos lindos e manhosos e uma boca tentadora.
Um pouco constrangida e a custo lá conseguiu articular:
- Tudo bem?
- Sim, tudo. Obrigado. Então, acabou por hoje? Vai para casa?
- Sim. Mas primeiro vou passar num café para beber qualquer coisa fresca. Estou com um calor danado, estou a ferver.
- Não me diga!
E logo os olhos dele brilharam daquela forma insinuante, como sempre, a imaginar mil coisas deliciosas.
Ela apesar de não ser nenhuma jovenzinha, muitas vezes ficava sem saber como lidar com as situações. E até corava, pois percebia logo o que lhe ia na mente, apesar de não terem nenhum tipo de intimidade. Nesse momento ficou a ferver de três maneiras. De calor, de excitação e de raiva. Não podia negar perante si própria, que ele não lhe era indiferente. Há já algum tempo que sonhava com ele, não só a dormir, mas também acordada. E que sonhos! Dava por si a imaginar como seria beijá-lo, qual seria o cheiro da sua pele. Seria doce, ligeiramente forte? Ou …?
Despertou dos seus pensamentos e disse-lhe:
- Está a gozar-me?
- Não, claro que não. Sabe que seria incapaz de o fazer.
Mentiroso. Pensou ela quase em voz alta. Mas ele continuava a falar e como noutras vezes, ela perdida nos seus pensamentos, não apanhava metade da “conversa de serrote”, com que ele a presenteava e depois ficava com pena de não ter ouvido a “música” toda.
- Não me está a ouvir, pois não?
- Bem… Desculpe estava a pensar. Que estava a dizer?
- Entre outras coisas, que obviamente não ouviu, se queria tomar uma bebida fresca, para acabar com esse calor!
- Tudo bem. Não vejo nenhum mal nisso.
E lá foram os dois tomar a tal bebida fresca. Apesar do ar condicionado, dentro do carro gerou-se um clima ainda mais abafado.
Ela até fez um leque, de uma folha qualquer que encontrou na sacola. É que o olhar dele era tão perturbador, que ela tinha a sensação que o coração estava prestes a saltar-lhe pela boca. E como ele achava graça aos seus estados confusos! Sempre com aqueles sorrisos atrevidos! Que raiva!
Ao pôr nova mudança, propositadamente ou não, roça-lhe a mão pela perna e olha-a, com um olhar tentador. De repente pára o carro e diz de rompante:
- Não aguento mais, tenho algo para te dizer.
Há muito tempo que ela sabia, que ele tinha algo muito importante para lhe dizer. Tinha sido esse pensamento que lhe tinha salvo a vida, certa vez, mas ele não sabia. Não poderia saber.
Então encaram-se de frente, olhos nos olhos, e …
O resto da estória fica por conta de quem a ler, pois como sabemos, o maior afrodisíaco é a imaginação!
Teresa.
domingo, 16 de setembro de 2007
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34 comentários:
É "nice" escutar um conto com uma figura central na nossa terra. Tem a autora a vivência destas paragens ? Estamos na realidade ou na ficção. Promete e que venha um segundo capítulo.
Eduardo
Parece-me que gostou Eduardo e fico contente. Quanto às vivências tenho-as da Moita, Gaio, Rosário, Sarilhos, Montijo, Alcochete, tudo para o lado oposto, muito embora conheça Alhos Vedros.
Em relação ao conto, parte é realidade com uma grande dose de fiçção.
A continuação do mesmo teria de ser muito adaptada, pois existe, mas parece-me complicado ser publicada aqui, dada a grande dose de erotismo, que poderia ferir susceptibilidades. Obrigada.
Teresa.
Estamos muito agradados com a sua participação e, decerto, que o erotismo é uma forma de expressão artística com muitas e grandes possibilidades. Nós por aqui não exercemos censura à livre criação artística que não tenha más intenções.
Olá Philos !
Então temos a promessa de continuidade, pois só é censurável o que prejudica objectivamente alguma entidade ou pessoa. E real ou imaginário na sua narrativa, é natural sentirmos interesse pelos nossos semelhantes humanos, pois somos incompletos e procuramos sempre algo que nos preencha e satisfaça na natureza dos outros. Intrigou-me em particular a passagem: " Não aguento mais, tenho algo para te dizer.
Há muito tempo que ela sabia, que ele tinha algo muito importante para lhe dizer. Tinha sido esse pensamento que lhe tinha salvo a vida, certa vez, mas ele não sabia. Não poderia saber."
Bem haja !
Eduardo
O Eduardo é muito curioso, se eu matasse a sua curiosidade, ficaria a saber o resto do conto. Assim não vale!
Teresa.
Vamos ao resto do conto, ou passamos a outro tema para debate do Movimento das Forças Interrogativas?
Luis Santos
Que tal outro tema para o MFI? Pode ser? Please!!!
Sim, já agora conte o resto!
Ficamos à espera!
Bem-vindas são estas Estórias que nos estimulam a imaginação e um pouco das nossas vivências comuns.
Alhos Vedros, Moita, Gaio e Rosário são referências extraordiárias.
E já agoar, até pode ser o Caso, acrescentem a isso a Escola secundária da Moita de há 20 anos atrás.
No dia 29 de Setembro realiza-se um almoço de alu os da escola da Moita. O último já contou com cerca de 100 pessoas. O próximo ainda vai ter mais gente. Com pouca ou muita gente garanto-vos: foi FANTÁSTICO!
Luís Mourinha
O MFI vai voltar com um novo Forum.
Porque perguntar não faz mal! pelo contrário, faz bem à saúde mental.
Perguntar satisfaz a curiosidade mental e facilita o caminho para a Verdade.
P´lo Estórias de Alhos Vedros:
Luís Mourinha
O que não vale Teresa é acicatar o interesse e desapontar de seguida.
Mesmo que ainda não tenha terminado pode, "at least", divulgar mais um pequeno capítulo.
É bom nas estórias deste condado um "flavour" prosaico de amor ou de "flirt". A cultura é universal, mas é a natureza humana a sua intérprete no mundo.
Eduardo
"Quem não é para elas, não se mete nelas". Esta máxima tem direitos de autora.
Bem, aqui vai, brevemente aqui estará
o 2º capítulo, adaptado como já referi anteriormente. Em relação ao excerto de conto que referiu, ela sabia antecipadamente muitas "coisas", antes de ele lhas dizer, principalmente devido ao facto de esta não ser a sua primeira vida aqui na Terra.
Teresa.
Um "flavour" de mundo do éter com erudição erótica. Tenho de aguardar.
Confesso que refreei a minha curiosidade.
Coisas de homens e proteja-se a propriedade intelectual.
Eduardo
"No news" da contadora de histórias. Mesmo "frozen" pelo carácter etéreo, venha lá esse capítulo 2 !
Eduardo Pedro
Eduardo Pedro (?)
Nem tudo é o que parece... "Froze"!?
Teresa
Teresa (?),
os estrangeirismos (frozen= congelada, aqui com um sentido de expectativa gorada) são um dos meus calcanhares de Aquiles (não nasci por cá....).
"Please", não se zangue comigo !
Eduardo P.
Eduardo:
Compreendo os seus estrangeirismos e não estou zangada consigo. Fique ciente que só costumo aborrecer-me quando existem graves motivos e então fico uma "onça", o que não é o caso. Já falta muito pouco para satisfazer a sua curiosidade, peço-lhe apenas um pouco mais de paciência, por favor.
Fique bem.
Teresa.
Estimada amiga !
Algum sentido satírico pode por vezes ser "misunderstood", mas a Teresa (!) parece correcta e cumpridora. "I look at you" como uma mestra do suspense, e posso parecer um "bloguista" curioso mas a mensagem da continuação da "story" cria ansiedade a a natural moralidade dos conteúdos pró-eróticos.
Terei a pacíência pedida e "all the best for you". E um "weekend" inspirador....
Seu
Eduardo P.
Com o devido respeito agora não queremos saber de mais nada. Venha mas é daí o 2º capítulo.
João
Eduardo Pedro:
Ignorando a penúltima palavra do seu comentário, permita-me agradecer-lhe a gentileza e generosidade das suas palavras.
"All the best for you" e fique bem.
"Take it easy", João. Senão atrapalha a escritora. Tenha um pouco de paciência, por favor.
Teresa (?):
não utilizando os habituais estrangeirismos, peço a desculpa se fui incorrecto pois "Seu" apenas queria significar adimiração e parceira de diálogo.
Perdoe-me e sinceramente vou tentar não voltar aos comentários do seu promis~sor conto.
Seja feliz !
Eduardo P.
Como deve imaginar quando não se conhecem as pessoas, ficamos na dúvida sobre as suas verdadeiras intenções. À primeira vista, uma palavra inocente, pode sê-la ou não conforme a pessoa que a usa. Contudo não fiquei chateada, apenas desconfiada.
Dupla felicidade para si e fique bem.
Teresa.
Hi Teresa (?)
Feliz regresso.
Pressinto o 2º capítulo nos próximos dias.
"Sure" ?
Bons manuscritos.
Eduardo P.
Que bom, voltou! Diverte-me, sabe?
"Take it easi". Saber esperar é uma virtude muito grande! Fique bem!
Teresa!
easy
Bye Teresa (?) !
Eduardo P.~
eduardo.i.pedro@gmail.com
Bye!? Mas, quem que autorizou a sua partida? Ok, estava a brincar, não se zangue. Voltei, vá anime-se. De qualquer forma sempre acabo por me rir com os seus estrangeirismos e grande inteligência, convenhamos.
Teresa.
P.S. Ah, já me esquecia, também voltou a contadora de histórias!
Olá Teresa !
Cativam-me a luminosidade e a candidez divertida das suas estórias e a fluidez da sua alegria perante as coisas da vida.
A cisão se reflexiva , mesmo dolorosa, pode ser boa conselheira.
Quanto à inteligência não se mede, e sobre ela vive a dignidade.
Boas estórias !
Eduardo P.
Eduardo P.
Sei que a inteligência não se mede, mas parece-me que a sabe utilizar de uma forma bastante digna, entre outras facetas. Quanto à dignidade prevalecer em detrimento de outros valores, parece-me bastante coerente, desde que não prejudique em nós a capacidade de desculpar ou perdoar aos outros. Desculpe ser assim tão explicitamente clara e transparente.
Nós temos sempre algo a aprender com os outros. Deixe os "galões" e volte. Perdoar é um dom que nem todos conseguem ter, por isso será um bom tê-lo entre nós.
Fique bem.
teresa.
Tem razão Teresa !
Estou a crescer, e sem resgate de dignidade tentarei perdoar aos outros e a mim próprio para permanecer no erro do mundo.
Thanks e bem haja pela clareza das suas posições.
Eduardo P.
Que bom que reconsiderou. Admiro as pessoas que dão a si próprias o benefício da dúvida, perdoando aos outros e a si mesmos.
Thanks.
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