sábado, 21 de junho de 2008
uma estória lusófona
O Sebastião tinha um qualquer problema com os copos de tinto, de tal foma que não os podia ver cheios. E vai daí, daqueles copos grandes de água, jogava-os à boca e nem tocava nas campainhas. Bebia muitos por dia. Até porque trazia consigo o dia todo. O vinho talvez funcionasse para si como o amigo que nunca chegara a ter. Ou a companheira que nunca se lhe conheceu. Ou o filho que um dia sonhou ver nascido. Nunca se lhe ouviu dizer mais que duas palavras seguidas e a intervalos muito grandes. É um homem do silêncio: sim, sim; não , não. Tudo o resto são obras do diabo. Taberna e terceiras de tinto, eis a terna razão da sua Vida. De forma surpreendente, subitamente, deixou o vinho. Agora só sumo de laranja. O médico disse-lhe que tinha de deixar de beber e ele cumpriu sem hesitação. Diminuída a ansiedade do vício, é impressionante a calma com que sentado no muro defronte da porta da igreja aguarda a sua moedinha. Até parece que o tempo parou e que, de coração amansado, guarda em si boa parte da tranquilidade que há no mundo, esse bem tão precioso e tão escasso.
luis carlos
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6 comentários:
Estória fantástica, digo, bem escrita, aliás, muito bem escrita. É uma estória de vida!
O Vinho que faz mal à saúde, mas que dá sentido à vida. Pelo mesnos algum sentido, pelo menos para algumas pessoas.
Aqui está UMA resposta para a pergunta: qual o sentido da vida?
Luís Mourinha
Para além disso é uma Estória que fala de alguém que conhecemos, alguém que faz parte do nosso imaginário, que nos habituámos a ver e a conviver. Essas pessoas fazem parte da nossa terra, da nossa identidade cultural e por isso fizeste bem em escrever sobre o assunto.
Talvez tenhamos aqui uma boa questão: "Os copos de três" e o sentido da vida. Qual a relação?
Confesso que desisti. Tentar sempre (sem conseguir !)também cansa. Nunca consigo postar neste blog. Desisto!!!
Croca
Ao que parece os problemas técnicos com que o manuel João se debatia estão superados.
lcs
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